Terça-feira, 8 de maio de 2012 - 11h08
Meu pai, Paulo Saldanha Sobrinho, quando chegou aqui em Guajará, no ano de 1935, já se valia de óculos, inclusive para jogar futebol. Veio auxiliar o Coronel Saldanha no gerenciamento da Empresa de Navegação do Guaporé.
Em serviço recolheu o treinamento que o fez merecedor da progressão funcional, permitindo-lhe subir as escadas na hierarquia da organização. Primeiro, foi escrivão de bordo, depois aprendeu a pilotar as embarcações e conheceu todo o trajeto rios acima, rios abaixo. Mais tarde foi Comandante de embarcação, depois chefe do Tráfego e Superintendente.
Uma vez, chegando a Vila Bela da Santíssima Trindade, rio Guaporé, Estado de Mato Grosso, alguém levou ao seu conhecimento que um índio Nhambiquara, flagrado fazendo pequenos roubos, tinha sido feito prisioneiro e, orientando a autoridade para liberar o pobre silvícola, quis conhecê-lo.
Na cadeia, assim que o índio o viu, começou a rir e a fazer aquele som (a onomatopeia do PÔPÔPÔPÔ do motor acionado) que a embarcação produz ao movimentar-se de forma acelerada e apontava para os óculos que meu pai estava usando. E o indígena ria e ria, dedo em riste sinalizava o jovem comandante, ali a sua frente.
Um intérprete captou toda a mensagem: é que o prisioneiro tinha espreitado muitas vezes, sem ser avistado, o homem branco que usava um pequeno equipamento nos olhos, enquanto a composição fluvial parada num dos barrancos era abastecida com lenha.
Em outras palavras, o grupo de índios observava toda a comitiva, sem ser percebido. Enquanto a lenha era coletada, poderiam armar uma surpresa, se quisessem, e, assim, matar os distraídos homens da Navegação.
Atendendo a recomendação, a autoridade matogrossense, em nome do bom relacionamento com a empresa, à noite, deixou a porta aberta e o índio sumiu da vista dos habitantes da pequena Vila Bela.
E a tripulação continuou recolhendo lenha para abastecer as caldeiras e os fogões das lanchas “Horta Barbosa” e “Felix de Lima”, porém um homem branco de óculos já estava mais atento...
Em viagem rumo ao Guaporé, um garimpeiro pediu carona em troca de serviços que prestaria, como improvisado marinheiro. Ele desejava ficar na foz do rio Cabixi. Meu pai aquiesceu, ganhando a confiança do aventureiro.
Numa das conversas mantidas com ele, ficou sabendo que naquele rio Cabixi havia ouro e isso –disse-lhe o aventureiro- iria comprovar. Mas e a bateia?
–não tem, não, “Sinhô”! Mas isso eu improviso.
Lá pelas tantas, numa madrugada, eis que chegam à foz do rio Cabixi, afluente do Guaporé. Ali seria o destino daquele personagem. Foi-lhe presenteado um rancho com arroz, farinha, charque, banha de porco, feijão, sal, bolachas, café e açúcar, além de um terçado, munição para espingarda 20, pólvora e chumbo. Meu velho ainda lhe deu uma rede nova, uma manta e mosquiteiro. O pobre homem quase não tinha nada; apenas a espingarda 20 (pouca munição), alguma roupa, chapéu velho, uma panela, coador, frigideira, escova, pasta, sabão e uma rede velha.
–Agora sou “homi” rico “seu” Paulo, disse ele, bastante agradecido. E ficou no barranco, no lado direito do rio cabixi.
Já descendo, depois de alguns dias, o comandante Paulo lembrou-se do aventureiro e decidiu parar no local aonde o havia deixado. Chamou-o pelo nome, até que resolveu aparecer, festejando a presença do novo amigo.
–“Seu” Paulo, venha aqui, mas venha só. Parecia desconfiado...
Caminharam uns 80 metros e pararam, mata adentro num rabo de jacu e o garimpeiro olhando para os lados, retirou debaixo de uns gravetos, um litro que o mostrou para o seu interlocutor. Dentro, o mineral que identificou como ouro, parcialmente cheio, aliás, acima do meio, segundo pôde avaliar.
–O “sinhô” sabe, o filão não é aqui, não! Isso aqui é “minerá” que “iscorregou” do veio “principá”. Não pude “recoiê” mais “pruquê” não tenho bateia e me valho de uma casca de árvore para “apanhá” esse ouro. Vou subir esse rio e outros “igarapé inté encontrá a mina principá”.
Desejou boa sorte para aquele homem determinado, reforçou-lhe o rancho e liberou a composição para continuar a viagem. Porém, noutras viagens jamais reencontrou o garimpeiro, em que pese desejar revê-lo.
Note-se que o rio Cabixi fica bem próximo do município de Colorado, aqui em Rondônia, onde ouro em quantidade, nos anos 70/80, fora retirado dos rios do entorno e das entranhas da geografia local. Estaria ele, o garimpeiro, próximo das Minas de Urucumacuã?
Também há o relato recolhido pelo meu velho dando conta de dois militares deixados pelo Rondon, como guardiões de uma enorme reserva mineral, um deles de nome José Veado, que acabaram, 3 anos depois da decisão do chefe, após ficar sem munição e sal, aparecido bastante cansados, abatidos e esfomeados no recém redescoberto Real Forte Príncipe da Beira.
O grande militar lhes transferira a informação de que aquelas jazidas dariam ao nosso país a condição de jamais ser uma nação pobre, mas, ao contrário, soberanamente rica, em função do que representavam aquelas descobertas. Informações que o comandante Paulo recolheu do próprio José Veado, ainda magro, bastante arranhado e com os pés feridos, após a travessia tão longa quanto amarga e desgastante para eles.
Hoje, sabe-se que ouro, cassiterita, cristal, manganês e diamante, etc., fazem parte do rol de nosso fausto mineral, e, estaria (?) protegido através das reservas (federal e estadual) que foram criadas, desde que não sejam manipuladas por ONGs mal formadas, que se transvestem com uma roupagem de protetores dos povos da floresta, mas que poderão estar a serviço de algum outro povo de outras terras...
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