Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Paulo Saldanha

PRECISAMOS SALVAR O BICHO HOMEM


Acho notável, digno de registro, louvável mesmo sob todos os aspectos, a preocupação de homens e mulheres do meu tempo, quando se reúnem para salvar animais e árvores, considerados em extinção. Isto porque gente do presente e do passado, por desinformação, má formação ou inadvertência agiu contra ou deixou de agir na proteção da biodiversidade, concorrendo por ação ou omissão para a extinção de espécies, sejam vegetais, sejam bichos, sejam viventes na água doce ou nos mares do nosso mundo.

E isto aconteceu nas florestas, (ante a redução de aves e animais silvestres), nos mares, rios, igarapés lagos e baías (onde peixes e anfíbios se movem, nascem e crescem para uso do próprio homem).

Em que pese haver surgido uma preocupação com o meio ambiente, já na metade dos anos 80, mediante, inclusive, o aparecimento dos termos ecologia e biodiversidade, muitos passos haveremos de percorrer nesse início de terceiro milênio. Ainda que, como conseqüência, tenha já eclodido a consciência que redundou na formação de grupos em defesa da “vida sobre o Planeta terra”. Alguns radicais, xiitas, outros nem tanto...

Houve um pequeno despertar visando a alertar, modificar hábitos e conceitos, discutir novas estratégias com vistas a semear o “bom vírus”, que desembocasse em novas ações, que possibilitassem maior zelo, acompanhamento, enfim, uma nova palavra de ordem que erguesse templos à obrigação de se cuidar do planeta Terra, antes que vejamos, candidamente, exaurir a vida nos mananciais, na mata, no ar, nas cidades, no campo, enfim, no meio ambiente.

Mas, o homem, em sua grande maioria, continuou insensível aos chamamentos, aos gritos de alerta, fechando seus cérebros e seus corações para a racionalidade que era invocada, mas deixada de lado pelo lucro que cega, pela ganância que entorpece, pela avidez desenfreada em cima da expansão, que nos choca.

E o planeta que se lixasse...

Cada árvore derrubada corresponde a diversos ninhos que desaparecem, além do mais, sabe-se que é atemorizante a queda de uma árvore na mata bruta: é assustador o barulho causado pela morte de um ente florestal. Jamais participei de uma guerra, mas vi nos filmes e a associo a uma bomba de vários megatons , som mais forte que o de um trovão.

Aves voam em debandada, em direção aos diversos pontos cardeais, correndo o risco de se chocarem, macacos gritam em desespero, cobras fogem do esconderijo, pacas e cotias assustadas não sabem para onde ir. Pior que isso só a fuga empreendida em face do fogaréu furtivamente iniciado pelo bicho homem. Os animais assustados, sem rumo, muitas vezes, fugindo desorientados, vão encontrar a morte justamente no círculo do fogo ativado.

E o bicho homem, que concorre para esse aniquilamento, também corre, com a sua motosserra, para livrar-se da possibilidade de esmagamento. Mas, como ironia da vida ou da morte, muitas vezes é punido com a perda da própria vida, ante a impossibilidade de safar-se a tempo e se vê esmagado pela árvore que acabara de derrubar...

Uma árvore, segundo as pesquisas, ao ser derrubada, como no castelo de cartas de baralho desmoronando, conduz outras cinco ao sumiço e à morte. Assim, considerando-se o efeito multiplicador, quase 30 espécimes também acabam falecendo. Afinal, são seres indefesos que, desaparecendo, concorrem para minguar a vida neste planeta secundário...

Assim, ao tempo em que cuidamos nos contrapondo ao aniquilamento dos animais irracionais, aves, peixes, etc. devemos focar nas ações que possam privilegiar a não extinção dos bichos homens, (tidos como inteligentes (?) mediante lições de vida que os conduzam à reflexão, que vise à busca da racionalidade, retirando-o da ignorância, favorecendo-lhe ensinamentos e exemplos edificantes em cima do cuidado que precisa ter com os mananciais e os verdes campos (não permitindo o uso dos agrotóxicos), com os leitos e barrancos de rios, lagos, baías e igarapés, com a pesca predatória e com o abate indiscriminado de animais selvagens.

O combate intensivo para se evitar a extinção da vida deve ser antecedido da educação ambiental, que favoreça uma espécie de gestação do homem íntegro, probo, idôneo e sensível para as causas da natureza, que não deverá demorar a nascer.

Devemos nos valer da inteligência e da sabedoria, a serem exercitadas porque são sócias da experiência e da sensibilidade, as quais, se bem manejadas, poderão operar seus milagres. Ainda há tempo...

Será pedir demais, solicitando que as escolas e colégios, de forma ampla, geral e irrestrita introduzam disciplinas em seus currículos, com foco nos cuidados que as gerações precisam dar ao meio ambiente? Educando o homem de agora, recuperando-o perante si mesmo, para que, como esse broquel de conhecimentos, possa ele refletir e, assim, cuidar da biodiversidade, com visão estratégica, de longo prazo, com sensibilidade prospectiva, sob pena de, ao contrário, matar a sua galinha dos ovos de ouro: o clima, como parte do eco-sistema, cuja recuperação é ordem imperativa, pois se acha agredido, assim como, enquanto é tempo, a fauna, a flora, os mananciais, etc., enfim, em nome da vida, de hoje, amanhã e sempre, por todos os séculos, dos séculos... Amém!

 

Gente de Opinião Gente de Opinião

Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
AMAZÔNIAS
/ RondôniaINCA / OpiniaoTV / Eventos
Energia & Meio Ambiente
/ YouTube / Turismo / Imagens da História

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoDomingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Crônicas Guajaramirenses - O poder do m da palma da mão

Crônicas Guajaramirenses - O poder do m da palma da mão

O M que lembra a palavra Mãe é o mesmo M que, conforme o Cantador nos ensina: é onde na palma de nossa mão principia o nome Maria.M que se une a ou

Crônicas Guajaramirenses - Olha pro céu, minha gente!

Crônicas Guajaramirenses - Olha pro céu, minha gente!

Azul, o nosso céu é sempre azul... Diz uma estrofe do Hino de Rondônia. Será?Bem antes do nosso “Sob Os Céus de Rondônia”, tentaram nos ensinar que:

Crônicas guajaramirenses - Por quê?

Crônicas guajaramirenses - Por quê?

Por quê os prédios públicos são tratados pelos homens e mulheres do meu tempo com tamanha indolência? Preguiça, ou será má vontade?Por quê o edifíc

Crônicas Guajaramirenses - As águas negras e as águas barrentas

Crônicas Guajaramirenses - As águas negras e as águas barrentas

Sempre me comovo ao observar o encontro das águas, que, no caso rondoniense, são os beijos gelados entre os rios Guaporé e Mamoré e deste com o rio

Gente de Opinião Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)