Quinta-feira, 7 de março de 2013 - 11h39
Naquele tempo o LANDAU seria, num País Tropical, o carro mais cobiçado, embora vivêssemos um tipo de indústria automobilística que um Presidente da República chamou de fábrica de carroças.
Naquele tempo um LANDAU transitava pelas vias da cidade, com mocinhas à bordo, desfilando pelas avenidas parcialmente pavimentadas e pelas vicinais esburacadas do município, tendo na direção um dos filhos de rico seringalista...
Naquele tempo também vivia num lugar amazônico, que até poderia ser Guajará-Mirim, o saudoso velhinho Benvindo Quaresma, dono do sítio Mombaça, inspirado esse nome no homônimo lugar, cidade queniana fincada na costa do Oceano Índico, nome em homenagem a uma região do Leste Africano, pomposo título lido certa feita por seu filho Pablo Tamborete, numa reportagem da revista Seleções Reader`s Digest. Tamborete, aliás, apelido em face da pequena estatura quando criança, como aluno no colégio Dom Bosco de Porto Velho.
Naquele tempo Quaresma, virtuoso homem, mas ligeiramente debochado, conforme o momento se apresentasse, já com cabelos brancos, sempre em desalinho, camisa aberta ao peito, calça constantemente puída, sandálias de couro que ele mesmo fabricava à moda nordestina, seguia a sua vida no ritmo morno, porém aprazível, segundo a sua crença sempre aliada à natureza.
Branco, já com rugas a sinalizar que os seus 40 anos já tinham sido festejados, pelo menos há umas duas décadas, fazia das gozações a sua marca pessoal, sendo, para ele, porém, uma grande distração. E ria das maquinações e repentes que improvisava.
Um dia lá ia Quaresma, rédeas à mão, estimulando o cavalo que impulsionava sua carroça, seu orgulho, com pensamentos soltos que se chocavam com as lembranças que insistiam em povoar as ideias. Às vezes ria de antigas lambanças em que se viu envolvido.
E o cavalo de estimação trotava... e trotava em direção ao seu sítio, com aquele andar garboso, apesar do peso que a carroça tosca, mas muito bem construída, em cujo compartimento se via uma saco de açúcar, caixa de óleo, quilos de cebola e alho, além de querosene.
Na verdade, a compra para os meses seguintes, incluía charque, bolachas, farinha de trigo, café, sal, linha para coser, linha de nylon para anzol, chumbo e pólvora (ainda permitida a compra sem burocracia) e outros materiais e ingredientes para o seu bem estar, até que nova descida até a cidade lhe levasse a outras aquisições.
Na ida, já trouxera laranjas, limões, macaxeira, milho, abacate, jaca, melancia, cana e outros produtos que o abençoado lugar já produzia, com os quais transformara em dinheiro para as compras do parágrafo anterior.
Quaresma, absorto em seus pensamentos se distraía no trajeto, quando o homem do LANDAU, entrando pela direita, numa afronta aos mandamentos do trânsito, freia, deslizando as rodas do carro no cascalho da mal construída e pessimamente cuidada estrada, levantando uma nuvem de pó, poeira que lhe fez tossir tijolos e telhas. E acintosamente lhe questiona:
-Amigão, morador destas plagas, quanto falta para nós chegarmos à propriedade do Pafúncio Serapião?
_Num sei o que é plagas, meu sinhô! Mas, o Pafúncio Serapião, neste meu equipamento movido a cavalo, um só, será encontrado em 3 horas. Sempre em frente.
-Mas, também, como esse cavalo ai, velho, manco e cansado como está, nem em 10 horas chegará lá; veja! o animal está babando... deve estar com sede... mas, veja! aqui o meu LANDAU, tem 250 cavalos e só de vez em quando dou água para essa tropa toda...
E riu com a empáfia dos poderosos.
–“Tombém num precisa iscuiambá e disfazê do meu animá de istimação. Aliás a baba não é de sede, não, apois eu lhe dei água a poca hora”...
E a homem do LANDAU, saboreando o chiste, arrancou fazendo mais poeira ainda. Quaresma fez um muxoxo e desejou uma boa viagem! Mais tijolos e telhas saíram das narinas do Quaresma e das ventas do cavalo.
Três horas depois a carroça chega à beira do rio, após a curva daquela estrada esburacada, com piso escorregadio. Havia chovido um pouco antes; naquele trecho nem cascalho, o terreno era de barro puro. Liso, liso como jaca, mais liso do que quiabo!
Quaresma saindo da curva, em marcha cadenciada foi parando, parando e parou. E um cenário se lhe surgiu: do rio vislumbrou o esplendoroso LANDAU, cheio de água por dentro, quase cobrindo os bancos, e, da frente do carro parcialmente submerso, fluíam umas bolhas; somente a traseira do automóvel de fora. Ali perto cinco garotas e um jovem estiloso não dissimulavam a tensão e ruminavam críticas e impropérios, amaldiçoando o momento que não deu para frear bem antes da curva.
–E aí amigão? Dando de ”bebe” pra a sua tropa?
E Quaresma, sempre de bom coração, recuperou o bom humor, dissimulando a raiva que sentira em face das gozações do moço do LANDAU, foi providenciar ajuda e apoio para puxar do carrão para cima do barranco.
É que a ponte ficava mais ao lado...
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