Quarta-feira, 15 de dezembro de 2010 - 09h05
Paulo Cordeiro Saldanha*
Um dia fui menino, adolescente e rapaz, até que a condição de adulto me fez chefe de família, casado e Pai de quatro filhos.
Um dia a maturidade me pegou desprevenido, perdi a mocidade, mas tentei conquistar a sabedoria, que tarda a chegar.
Entrementes, enquanto desfilava pelas estradas da vida, fui descobrindo certos valores. E entre uma descoberta e outra, a condição de Avô me chegou tão de mansinho, como quem chega do tudo e acabei vibrando com esse descobrimento, para mim, mais importante que aquele da América...
E eis que me tornei mais leve, carregando essa bem suave responsabilidade, traduzida pela glória que a vida me concedeu de ser Avô do João Paulo, da Raphaela e da Ana Clara.
E esse encargo que é sublimado pela excelsa condição de ser chamado nem sempre pelo pomposo nome de Avô, mas pelo olhar pedinte de atenção ou pelos bracinhos estendidos, que imploram atenção, me valem como graça por viver esses momentos.
Fiz meus cálculos: tenho mais chão já percorrido do que a percorrer na estrada real, não quimérica, de minha existência. Pelo andar da carruagem, apesar de ser saudável e sadio, seguindo a lógica expendida pela ciência, deverei viver até os 74 a 76 anos de idade.
Que pena! Terei apenas mais 10 a 14 anos de convívio com os netos já nascidos. Há outros a chegar, um dia! Mas nenhum sentimento de autocomiseração me olha de esguelha. Apenas constato a realidade dos fatos.
E o tempo continuará percorrendo os trilhos de uma imaginária estrada, que, na sua trajetória, substituem horas por dias, esses por noites, estas por semanas, aquelas por meses, estes por anos...
Mas será muito pouco para quem, como eu, se descobriu absolutamente, perdidamente apaixonado por essas criaturas, ainda tão carentes de apoio e atenção.
Quisera eu viver mais tempo para recolher mais abraços, mais beijos, mais declarações de amor de cada um deles.
Quisera eu poder viver mais tempo para acompanhar a trajetória de cada um, seus sucessos, eventuais atropelos e recomeços.
Quisera eu, com a maturidade batendo à minha porta poder orientá-los eficazmente, a partir da experiência recolhida, símbolo das minhas vivências, certas ou erradas, que aconselharam outras tomadas de rumo, contribuidoras para um aperfeiçoamento que todo ser humano busca conquistar, após levantar-se dos tombos, a partir das escolhas equivocadas.
Experiências que possam traduzir em orientações e rumos a não serem seguidos; ou, na outra ponta, exemplos que podem ser aconselhados, em face do acerto que as opções corretas simbolizaram conquistas e sucessos consagrados, celebrados na forma idealizada pelo grande atleta, a partir dos golaços feitos numa partida de futebol, com direito a pulo e soco no ar...
Quisera estar ao lado, quando a alegria, o contentamento lhes bafejar a trajetória do ensino fundamental, técnico, acadêmico ou, mais tarde, quando a escolha profissional lhes acenar de forma efetiva, conduzindo-os ao exercício da profissão escolhida.
Quisera eu estar sempre próximo quando a emoção tomar conta de um deles; quando a tristeza, irreversivelmente inerente à condição humana, lhes bater às portas da vida; quando se transformarem em adolescentes, em rapazes e moças, conforme o caso, decidindo a intensidade de suas amizades perenemente eternas, consagrando a afeição como forma de se descobrirem leais amigos ou sinceros namorados e noivos.
Quisera eu estar por perto, sem grudar, mas sempre atento, visando a alertar, prevenir, orientar, aconselhar, abraçando-os e beijando-os, aplaudindo-os, estimulando-os, incentivando-os como fariam os avôs, de antes e de hoje, como eu, tão contritamente agradecidos por ter merecido o aconchego desse convívio.
Mas, como vêem, tenho pouco tempo! Uma contradição: é que isso me angustia e dilacera o coração!
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de letras de Rondônia-ACLER.
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