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Gente de Opinião

Renato Gomez

Crônicas da Nova Terra: A emboscada


Por que esperar se podemos começar tudo de novo

Agora mesmo

A humanidade é desumana

Mas ainda temos chance

O sol nasce pra todos

Só não sabe quem não quer.

Quando o sol bater na janela do teu quarto– Legião Urbana

            Convoquei todos os humanos livres para uma reunião e informei todos os passos dos Novos Humanos que me foram passados por minha Jaci (deusa da lua para a nação Tupi-Guarani). Juntos traçamos uma estratégia que esfriaria os planos dos alienígenas e de quebra lhes traria um bom susto.

            Após o meu encontro com o lendário Mapinguari, comecei a monitorá-lo através de meus amigos que faziam a vigília noturna de cima das árvores e descobri que ele habitava pela região de nosso encontro e só não atravessava para o nosso lado (a margem oposta do Rio Madeira) porque tinha medo de água.

            Decidi que faríamos uma ponte e traríamos o Mapinguari pro nosso lado, mas antes cavaríamos um fosso em volta do nosso acampamento, ligado ao rio, para que ficasse cheio de água e impedisse o Mapinguari de se aproximar de nós.

            Assim foi feito. Porém não tivemos notícias de que a fera tivesse atravessado a ponte. Na alvorada, os Novos Humanos já se posicionavam na floresta sem saber que nós também estávamos alocados e vigilantes, mas algo me preocupava: e se o Mapinguari atacasse minha amada ou algum dos humanos colonizados ou ainda matasse algum Novo Humano?

            Sim, mesmo sendo adversários dos Novos Humanos, nunca matamos nenhum deles, apenas os feriamos em batalha, mas sem intenção de matar. Felizmente, nós ainda nutrimos o que de melhor tem na humanidade. Cultivamos um sentimento de fraternidade e aspiramos pela expulsão dos Novos Humanos da Nova Terra, e isso apenas porque eles já demonstraram que não estão dispostos a um convívio pacífico onde eles não sejam a classe dominante.

            Os Novos Humanos começaram a atacar com flechas de cima das árvores, nós repelíamos os ataques também com flechas e com catapultas. O Mapinguari que até então não dera sinal de vida, gritou, porém, ainda estava do outro lado do Rio Madeira. Tive que agir e pensar com rapidez. Subi numa castanheira muito alta e, com uma flecha amarrada numa corda, improvisei uma tirolesa que me levou até o outro lado do Rio. Respondi ao grito da fera e me posicionei na beira da ponte.

            A fera veio na velocidade da Mad Maria novamente, derrubando todas as árvores que ousavam estar em seu caminho. Eu corri pela ponte emitindo os sons de resposta para que o bicho me seguisse e ele veio. Quase no fim da ponte ele já estava bufando no meu calcanhar. Tive que me jogar no rio. Mas meu plano dera certo, ele finalizou a travessia e foi na direção dos Novos Humanos que olhavam incrédulos.

            As árvores caiam e com elas os Novos Humanos e humanos colonizados. Todos corriam e se atiravam no fosso ou no rio. Como um trem desgovernado o Mapinguari seguiu em linha reta e sumiu pela floresta sem direcionar seu ataque a ninguém. Sua passagem por dentre o fronte adversário fora suficiente para que eles recuassem.

            Não houve baixas em nenhum dos lados. Os Novos Humanos tomaram um bom susto e conseguimos libertar vários humanos que caíram no fosso e trazer para nosso acampamento que agora é protegido pela fera amazônica que por muito tempo aterrorizou os seringueiros, caçadores e ribeirinhos.

            À distância, olhava minha metade indo embora. Quando eu iria lhe desviar o olhar, ela parou e me abriu um breve sorriso, depois retomou seu rumo. Foi o suficiente para me fortalecer. Ainda estou longe de minha Jaci, mas é por uma boa causa, pois no momento somos mais fortes separados, enquanto ela puder nos informar dos passos dos Novos Humanos, terá que ser assim...

            Continua...

Renato Gomez

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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