Terça-feira, 13 de maio de 2014 - 11h47
Silvio Persivo
Se formos pensar em termos de burocracia será imprescindível ir buscar o seu conceito em Max Weber. É do sociólogo alemão a concepção científica da burocracia que ganhou com ele o significado clássico de que a burocracia seria a organização eficiente por excelência por conseguir explicar nos mínimos detalhes como as coisas deverão ser feitas. Para Weber, aliás, a burocracia moderna não seria apenas uma forma avançada de organização administrativa, com base no método racional e científico, como também uma forma de dominação legítima. Para conceber esta visão ele creditava aos burocratas os atributos que regem o funcionamento da burocracia como formas de relações sociais das sociedades modernas.
Para Weber, a burocracia e a burocratização são processos inexoráveis, ou seja, inevitáveis e crescentes, presentes em qualquer tipo de organização, seja ela de natureza pública ou privada, inclusive raciocinando que, sem a organização burocrática, o desenvolvimento de uma nação seria retardado por ser indispensável ao funcionamento do Estado um aparato burocrático para bem cumprir suas funções. Portanto, em Weber, apesar de ter existido em períodos anteriores, só no contexto do Estado moderno e da ordem legal é que a burocracia atingiu seu mais alto grau de racionalidade, ou seja, a ação burocrática tende a visar, de fato, a eficiência e resultados. É evidente, porém, que não conhecia o Brasil, nem a sua capacidade de canibalizar conceitos, palavras e instituições. No Brasil como se sabe o que menos existe em qualquer burocracia é racionalidade e busca de alcançar objetivos. Numa síntese: desmoralizaram completamente a concepção de Weber.
Por aqui o que vale mesmo é a famosa concepção popular, e certeira, de que a burocracia é uma organização lenta, vagarosa, mal educada e na qual os papéis e atestados sempre se multiplicam para impedir soluções rápidas ou eficientes. O termo é empregado não somente com o sentido de apego dos funcionários aos regulamentos e rotinas, causando ineficiência à organização, como também pela singular jabuticaba de criar dificuldades para vender facilidades tão próprias do país. No Brasil a burocracia é um sistema de moer as pessoas que se caracteriza não pelos atributos que Weber viu, mas, sim pelos defeitos que o sistema apresenta e aprimora. No Brasil a burocracia é o suprassumo da crueldade e da insensibilidade. Tanto que ainda que você insista em dizer que está vivo, e peça para que verifiquem a pressão e as digitais, de nada adianta se o sistema diz que você morreu. E, se não tomar cuidado, o burocrata mata para dizer que o sistema está certo.
Não se precisa ir longe para verificar isto. Basta pinçar do pronunciamento de Dilma Roussef a notável atualização da tabela do Imposto de Renda. Imposto de Renda que o contribuinte é obrigado a fazer a declaração para ser taxado, ou seja, faz o papel da burocracia para ser por ela explorado. Porém, a burocracia em nosso país é de uma crueldade invulgar. Basta ir a um posto médico onde não se atende ninguém mesmo chegando morrendo sem fazer uma ficha. Basta ver a concessão das aposentadorias que é um processo de extorsão dos benefícios que se angariou pela vida. Basta verificar que quando se trata de sugar recursos o Estado é rápido e insaciável, voraz mesmo. Quando se trata de reconhecer direitos, porém, aí de ti contribuinte, ninguém te fará justiça. A justiça só existe mesmo para os burocratas e seus amigos. Crianças jamais verás um país tão burocraticamente cruel quanto este!
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