Sábado, 4 de dezembro de 2010 - 14h16
Silvio Persivo (*)
Esta semana o Banco Central anunciou que passava a exigir o aumento do requerimento de capital das instituições financeiras dos atuais 11% para 16,5%, para a maioria das operações de crédito a pessoas físicas. Também foi anunciado o aumento de alíquotas de depósitos compulsórios, recursos que os bancos são obrigados a deixar no BC, e assim não podem usar os recursos para emprestar aos clientes. Não há a menor dúvida de que as medidas decorrem do susto com o endividamento que, segundo a Confederação Nacional do Comércio-CNC, em novembro, alcançou 59% das famílias. É preciso lembrar que o governo Lula praticamente dobrou a média histórica de crédito de 24% do Produto Interno Bruto-PIB para os atuais 47% que são um recorde desde que se acompanha a série histórica das contas nacionais.
Não se pode negar que este foi o grande trunfo eleitoral do governo Lula. A sensação de bem-estar que as pessoas sentem vem muito menos do aumento real da renda, embora ela exista, do que do aumento do consumo derivado, em especial, de que mesmo pagando 2,5 a 3 vezes o preço de um bem, hoje, as pessoas consomem mais em detrimento do futuro. Porém, o alto volume de crédito no país que, ainda mais nos últimos meses, se espalhou por todos os setores da economia, especialmente no financiamento de veículos, de bens duráveis e no setor da construção civil tem seu lado negativo que é o alto endividamento e, como os brasileiros, em geral, não controlam suas contas nem fazem planejamento financeiro o receio, por parte dos bancos e dos empresários, com 9% das famílias afirmando que não podem pagar suas contas, começou somente agora a preocupar o governo.
Sob o ponto de vista teórico as medidas tomadas em nome do controle da inflação são, efetivamente, corretas. Pode-se reclamar que vieram um pouco tarde na medida em que muitos consumidores já financiaram suas compras ao longo de novembro com a parcela do 13º, mas, não deixa de ser uma medida saneadora sob o aspecto econômico. Evita-se a inflação, por um lado, e, por outro, se acalmam os receios de que a inadimplência possa levar os bancos, principalmente os pequenos bancos, a terem dificuldades. Talvez um efeito colateral deste processo seja afetar um pouco as expectativas de vendas, contudo, será só um pouco mesmo, pois, as medidas levarão algum tempo para ter efeito. Isto talvez explique a demora do governo em adotar as medidas. Como é importante obter um crescimento do PIB substancial este ano para ter um comportamento fiscal mais ortodoxo no próximo, a visão de especialistas é de que se as medidas tivessem sido tomadas um mês atrás, por exemplo, os efeitos seriam muito fortes sobre as vendas de final de ano. Assim, fica claro que, pelo menos, no caso atual, a política se impôs à economia.
(*) É doutor em Desenvolvimento Sustentável e professor de Economia.
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