Sexta-feira, 7 de novembro de 2014 - 05h01
Silvio Persivo (*)
Bem, rememorando, apesar de, desde cedo, ter uma enorme tendência para não ser nada mais que um mero leitor, a minha admiração pelo conhecimento me levou as redações de jornais. Houve um tempo em que me equilibrei entre a disposição de ser jornalista ou estudar direito- que me diziam ser mais compensador financeiramente. Por osmose, havia um amigo defronte da minha casa, que me despertava uma certa atenção por sua capacidade de compreensão e saber, Antônio Carlos Ramos, formado em Economia e que até fez mestrado, que me serviu de modelo e reforçado pela indicação de que era um bom caminho, feita por meu pai, me tornaram um estudante de economia sem saber bem o que era isto. E me tornei, de fato, um economista, graças a grandes mestres que tive, como Abelardo Montenegro, Luiz Gonzaga Fonseca Mota, Firmo de Castro e Pedro Sisnando Leite, um especialista em desenvolvimento formado no Banco do Nordeste do Brasil. Por necessidade virei professor, mas, sempre perto de uma redação de jornal, e procurando entender como a economia se movia. Já fui (e até tentei aprender alemão para ler Marx no original) e, creiam, poucas pessoas (obsessivo que fui) leram tanto Marx. Fui um marxista convicto, mas, ser marxista é, por definição, superar Marx. Não repetí-lo como muitos fazem como um papagaio. Aliás, Marx é uma parte do conhecimento. Se virar, como virou para muitas pessoas, uma certeza não se trata mais de Marx, mas, de uma nova bíblia, pior que a original que, certamente, ninguém conhece.
Conhecer economia na época me parecia compatível com ter uma visão de esquerda ( e no Ceará a repressão era muito forte), o que sedimentava o sonho de um mundo mais igual. As ilusões passam. Aprendi, duramente, que não há mesmo almoço grátis. E me perturbo, até hoje, com muitas pessoas inteligentes que defendem o governo Roussef, a contrafação de Evo Morales e a estupidez que é a Venezuela do presente. É uma cegueira mental que me faz ver que o nazismo, e o atraso, podem ser uma opção viável na medida em que meias verdades sejam vendidas (e repetidas) continuamente até que certas pessoas crédulas acreditem nos “resultados”, a aparência de que as coisas estão melhorando. Mas, até que se mude a dura realidade, e as coisas se recoloquem no lugar. Afinal tudo tem um preço mesmo para quem não acredita no mercado. A realidade se impõe. A Petrobras informou nesta quinta-feira (6) o aumento do preço de venda nas refinarias da gasolina e do diesel. O novo valor começa a vigorar a partir da 0h desta sexta-feira (7). A alta da gasolina nas refinarias será de 3% e do diesel, de 5%. Como é natural, a alta não reflete o impacto do aumento ao consumidor. O valor do combustível nas bombas depende de determinação dos postos e será, no mínimo, de 10%. Aqui o petróleo sobe e um amigo, quase boliviano, defende o regime de Evo Morales afirmando que lá o combustível está mais baixo e me faz, quase rir, dizendo que a culpa é da Petrobras, que é uma empresa privada! É na hora do assalto! Impossível discutir com quem acredita que a culpa do que se pensa é da Globo, da Veja e da imprensa manipulada. Oh! Deus! Quem paga a imprensa? A oposição, sem dúvida! Ou a direita que se instalou no poder que, contraditoriamente, não assume nada do que faz, mas, quer ser esquerda e totalitária? Não é possível discutir com as certezas. O Brasil seria um país risível se não fosse a tragédia de ser, ao mesmo tempo, absurdo e ridículo. Certamente, bons economistas nesta terra devem dizer que Lula é o supra-sumo do pensamento econômico e que Dilma deveria merecer o Prêmio Nobel de Economia. O problema é que a miséria aumenta e o Produto Interno Bruto-PIB diminui. A culpa, é claro, do capitalismo e da crise externa, apesar dos países emergentes crescerem, em média, 3% e o Brasil uns míseros 0,24% em 2014. A fé, meus amigos, é inabalável.
(*) É economista e doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª.
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