Sábado, 6 de dezembro de 2014 - 22h37
Silvio Persivo (*)
Parece, hoje, até brincadeira, mas, a grande verdade é que, quase, mas, quase mesmo, fui um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores em Rondônia. Na época era muito amigo, e compartilhava as ideias de esquerda, de muitas pessoas com as quais até mesmo criamos um centro, que editou uma única revista e promoveu um único seminário, para discutir as eleições e as ideias vigentes. É certo que já sabíamos dos problemas políticos do socialismo, porém, nem o muro de Berlim havia caído, nem, como veríamos depois, todo socialismo pode ser tudo menos democrático, na medida em que o estado passa a tudo gerir o que, de partida, exige um partido único e a obediência cega aos governantes. Fora disto não há socialismo possível, de vez que o estado tem que organizar a economia. Não participei do PT por já, naquela época, ter um membro do partido caído de paraquedas para comandar os locais.
Bem, mas, isto é passado. Importa dizer que, naquele tempo, havia fé. A fé na revolução operária. A fé, vinda de uma teoria que tinha razão de ser na época da produção industrial, das massas compactas de operários. O tempo, e a falta de base da teoria de produção marxista com o fim da teoria do valor trabalho, reduziram o edifício teórico compacto de Marx a ruínas que, os seus crentes, procuram remendar sem sucesso. Uma teoria geral da sociedade, do movimento, como sonhou o velho sonhador alemão, é uma utópia irrealizável. Assim, quem pensa, quem raciocina, sobre a realidade concreta ou, como queiram os marxistas, sobre as “condições objetivas” não tem outro horizonte que não o capitalismo que, pode ser melhor, ou pior, de acordo como se organiza a sociedade. Esta é a realidade. Ser esquerda, esquerda moderna, hoje, é desejar promover a inclusão e não o sonho caduco dos Ches, dos Chavezs, dos Fidels da vida, que são múmias ambulantes do pensamento, pré-históricos mesmo.
Por mais que os petistas neguem é este o sonho último que os alimenta. Basta ver a admiração e os afagos deles a pessoas como Putin, Castro, Maduro et caterva, para colocar ao sol o amor nutrido por totalitarismos. Acontece que a riqueza para existir precisa ser gerada. E governos não geram riquezas. Administram o que retiram da sociedade através de impostos. É muito bonito falar em direitos, porém, não há almoço grátis. E o PT prega o almoço grátis para todos. É correto dizer que o partido tornou universal um programa de assistência social cuja abrangência não era satisfatória. É fato também que o PT, por outros interesses até, incentivou o crédito ao consumo, que possibilitou a muitos a aquisição de bens de consumo. Porém, é melhor parar por aí. A ideia de que o PT melhorou a vida do país é mero efeito de marketing. A dívida pública, de R$ 4,4 trilhões bate recorde histórico, o país perdeu participação no mundo, o governo Dilma é o de menor crescimento da história, mas, o pior é a perspectiva de futuro (até esqueço a corrupção alastrada). A verdade é que ambientes que criam riqueza necessitam de estabilidade e de contraditório. Não o do “nós x eles”, o de dividir para conquistar. Como ter um ambiente propício ao contraditório tentando impor um discurso único como o PT deseja? Como vai se estimular o consumo, sem aumentar a produção, como distribuir riqueza, e não criá-la? Onde o estado é um ente centralizador o que se cria é pobreza. Das duas uma: ou há uma enorme fé no equívoco, na dogmática certeza de que o estado é o caminho para criar riqueza ou estamos, contra todas as teorias econômicas, utilizando uma receita que incentiva o consumo, mas, não dá a mínima atenção à criação da riqueza, o que é um amadorismo imperdoável. Queiram, ou não, os petistas não há salvação fora do mercado. E se as regras do jogo mudam durante o jogo quem vai querer jogar para perder? E mudar as regras sem a atenção ao prejuízo alheio é o que os governos do PT mais tem feito. O resultado é o que temos visto: menos investimentos, crescimento pífio, descrédito no governo. E, enquanto houve um crescimento geral dos países emergentes, na primeira década do século XXI, nós continuamos a patinar sem um horizonte visível de melhores dias. E é bem possível, muito provável até, que com qualquer outro partido político governando, com ideologia que não seja igual ou pior, com certeza, o padrão de vida geral tivesse melhorado muito mais. Claro que não adianta discutir isto com os religiosos petistas. Eles acreditam em Lula e Dilma contra todas as coisas e fatos. É a fé que nunca se acaba.
(*) É doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPª e professor da UNIR.
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