Domingo, 1 de maio de 2016 - 13h28
Silvio Persivo(*)
De repente, deve ser culpa dos tempos, me vejo refletindo sobre a felicidade. É preciso acentuar que sempre alimentei a ideia, ligada ao pensamento do inglês Bertrand Russell, do livro “A Conquista da Felicidade”, de ser necessário, para tentar ser feliz, alimentar uma multiplicidade de interesses e de relações com as coisas e com os outros homens. Para ele, em síntese, a felicidade seria a eliminação do egocentrismo. Neste sentido, o que não deixa de ser verdade, é impossível ser feliz numa sociedade infeliz. Não muito diferente do pensamento, por exemplo, de Freud que, num estudo que tem menos de psíquico do que de filosófico, conclui em “O Mal Estar da Civilização” que, face às exigências impostas pela civilização, a felicidade é uma meta irrealizável.
É evidente que a ideia de felicidade é indissociável da ideia de prazer. Aliás, prazer e desprazer são conceitos fundamentais para se entender a concepção de felicidade. No terreno filosófico sobre o qual Freud edificou o conceito de prazer sua leitura é de uma crueza e precisão impressionante. Só rememorando: acentuava que o princípio de prazer é um modo de organização que, governando o psiquismo do início da vida, baseia-se na busca de prazer, mas, também em evitar o sofrimento. Freud é cético e clínico a respeito:
[...] o programa está em desacordo com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo quanto com o microcosmo. É absolutamente irrealizável, as disposições do todo – sem exceção – o contrariam. Diria-se que o propósito que o homem seja “feliz” não está contido no plano da “Criação”..
Para ele, portanto, se fazia necessária à introdução do princípio de realidade. Manter uma condição subjetiva de prazer sem desprazer é uma meta inalcançável. O mundo externo não nos permite a satisfação irrestrita, fora as questões psíquicas, como o tempo curto do prazer, a necessidade do contraste, ou seja, como ter prazer sem desprazer? Freud, é, para não ser pornográfico, um torturador mental de alto estilo, ao ressaltar que, sob o ponto de vista psíquico, há uma outra explicação para o fato do princípio de prazer ser irrealizável: a idéia segundo a qual a felicidade está relacionada ao estado zero de tensão, ou seja, à morte, sendo, nesse caso, incompatível com a vida, por conta da própria constituição do psiquismo. E, com a frieza de um estatístico, Freud nos afirma que as possibilidades de sentir infelicidade são muito maiores. A infelicidade provém do corpo, do mundo externo e dos relacionamentos humanos. Neste sentido, parece que ao seguir Russel e o grande neurocientista português, António Damásio, tenho navegado contra a corrente. Se for levar em conta Freud melhor é ter menos, inclusive relacionamentos, notícias, informações e até mesmo desejo de felicidade. Subjacente ao que diz, os homens que reduzem suas reivindicações de felicidade vivem melhor e são mais felizes somente por terem escapado ao sofrimento. O que me parece, apesar de como filósofo me encontrar num estágio mais rasteiro do que peito de cobra, é que, nem sempre o que se pensa, corresponde aos desejos, à capacidade psíquica e do corpo. Muitas vezes, abrir mão de algo é muito doloroso. Sendo assim como diminuir as reivindicações? Felicidade foi embora...Freud que me perdoe, mas, vou ouvir música.
(*) É professor da UNIR-Fundação Universidade Federal de Rondônia de Economia Internacional e Professor Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA da Universidade Federal do Pará-UFPª.
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