Quarta-feira, 11 de maio de 2016 - 14h12
Silvio Persivo(*)
Ora, uma característica permanente da imprensa, desde que começou a ser reconhecida, é a de que jamais foi isenta. Efetivamente, sua função básica sempre foi a de propagar e difundir ideias, e, ao que se sabe, é muito incomum ideias, em especial sobre governo e sociedade, serem consensuais. O que sempre se propugnou em relação à imprensa é a de que exista liberdade, ou seja, a todos seja permitido emitir sua opinião. Agora é preciso ver que uma televisão, uma rádio, um jornal tem dono, logo, não é errado nem antiético que defenda suas posições. Claro que o ideal é que faça isto de forma transparente, mas, isto depende da formação de cada um. E é preciso deixar claro que ninguém é obrigado a assistir, ouvir ou ler algo. Por mais que não se goste de certos posicionamentos dos meios de comunicação há sempre a liberdade de ignorá-lo. Aliás, um meio qualquer somente cresce se tiver audiência ou leitores, e se isto acontece, é sinal do que o que produz tem qualidade, cria interesse. A liberdade de imprensa se acentua quando qualquer meio vence a concorrência e consegue ter liderança. No fundo é representativo do que pensa a maioria. Isto é liberdade de imprensa e não se propugnar que se feche um meio de comunicação por não se gostar do que divulga. Isto é próprio de regimes comunistas ou fascistas onde não há liberdade de imprensa.
É claro que existem critérios técnicos para a imprensa, mas, nada é isento da política. O que não é aceitável, como muitos desejam fazer crer, é que haja um imenso complô a favor de algum tipo de ideia ou de governo, que, enfim, toda a imprensa seja mera manipulação. O PT que, por exemplo, hoje reclama que os veículos da grande mídia estão exacerbados e, supostamente, teriam construído uma pauta-única de sua destruição, de Lula e Dilma, não reclamava quando a quase totalidade dos meios fazia apologia do governo Lula, aceitava como realidade, por exemplo, coisas absurdas, sob o ponto de vista técnico, como a criação de uma falsa classe média emergente ou as comparações forjadas dos índices apenas com o final do governo FHC, quando eles cresceram por culpa da ascensão de Lula, numa manipulação da mídia sem precedentes na história brasileira. Por sinal, quem estava no governo, o principal anunciante e suporte financeiro da imprensa, era o PT e não somente financiou, aumentando os recursos para a área e a quantidade de meios pagos, como pagou um exército de jornalistas e blogueiros o que, certamente, não terá sido para fazer propaganda contra si. É totalmente falso que a imprensa tenha sido uma perseguidora de Lula e do PT. Sem ela, por sinal, sem sua condescendência, se houvesse existido uma apuração criteriosa dos fatos, Lula jamais teria chegado ao poder. Alegam, por exemplo, que as denúncias de corrupção do partido ganham mais manchetes. Convenhamos que, só para clarificar a questão, quando no passado existiu flagrante de recebimento de propinas, dólares em cuecas, atos dantescos, como dancinhas no Congresso ou intervenções do governo para gerar atos ilegais, como o mais recente de Maranhão? Se, no mandato de Lula, não houve um complô da imprensa para transformá-lo no “estadista”, que jamais foi, tampouco há, agora, um para transformar o governo Dilma em “fim de mundo”. A imprensa, como um espelho, só reflete, mesmo que, algumas vezes, com distorções, a imagem que os governos e a sociedade construir. Como Dr Jekkil só tenta provar suas teorias de que o bem e o mal convivem na sociedade. E, é evidente, o mal é mais fácil de dar boas manchetes. A imprensa, como o mundo, não é perfeita, mas, é melhor quanto mais diversificada e não, como pregam os que desejam uma versão única das coisas, com o estado buscando colocar limites à informação e às opiniões.
(*) É professor de Economia com doutorado em Desenvolvimento Sócio-Econômico Ambiental pelo NAEA/UFPª.
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