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Silvio Persivo

A Incompetência Política



A crise, assim como a desigualdade, é inerente ao capitalismo. Ao contrário do pensamento ideológico de que a crise irá acabar com o capitalismo, pelo menos, no horizonte previsível a premissa não se sustenta. Até parece que sempre as crises só o fortalecem. Mas, não se pode fazer nada contra a fé, tanto que, apesar da queda do muro de Berlim ter mostrado, definitivamente, que as sociedades planificadas não têm futuro ainda há os que acreditam piamente que a única alternativa que desponta no horizonte é o socialismo, quando, não resta a menor dúvida, que se trata de um sistema que, na realidade, tolhe o progresso, a eficiência e a liberdade.

Apesar disto, mesmo que a História tenha demonstrado claramente ser um horizonte aberto, e não um sistema lógico que terminaria, inevitávelmente, numa sociedade sem classes, há os que, cegos na sua ideologia, continuam a acreditar que são os arautos do futuro e que possuem a fórmula e o conhecimento do bem-estar, ainda que todos os que disseram saber, quando chegam ao governo, fazem igual, ou pior, do que os antecessores e, ainda se gabam, de que todos fazem igual. Sob muitos pontos de vista, mesmo para os países em desenvolvimento, o mundo tem melhorado, porém, só apontam para o fato de que a miséria e a fome (que eram muito piores) continua a existir e que as fortunas de 357 multimilionários ultrapassam o PIB de vários países europeus desenvolvidos. Tudo isto é verdade, porém, o problema não é do capitalismo, um sistema que é feito pelos homens, porém, dos próprios homens, que não conseguem criar formas políticas capazes de eliminar os problemas humanos mais graves.

O mais fantasmagórico de tudo isto é que os mesmos que dizem querer a democracia, a liberdade e o bem-estar de todos desejam, e tentam até mesmo de forma despudorada, manietar a imprensa. O argumento mais usado é de que os fatos, as notícias são selecionadas, apresentadas, valorizadas ou desvalorizadas, mutiladas ou distorcidas de acordo com as conveniências do grande capital. Assim, dizem que, por exemplo, o governo Lula da Silva teria sido vitima de uma imprensa cujo objetivo maior seria o de impedir os cidadãos de compreender os acontecimentos e o seu significado, bem como sempre atacando o governo por ser um governo voltado para o povo. Ainda que se aceite que haja esta inaceitável e impossível manipulação da imprensa em geral quem estaria mais habilitada para fazê-la: o governo ou as grandes empresas? Claro que é o governo que, cada vez mais, seja por cercear anúncios de cigarros ou bebidas, seja por aumentar os recursos de publicidade, seja por criar agências e direcionar as notícias tem muito mais poder de fazer isto que qualquer projeto particular. Mas, se faz isto, o que se vê é que não deseja apenas isto. Esta conversa de regulação é uma procura de retorno à censura.

A volta da censura vem sob o argumento de que os jornais e as cadeias dedicam cada vez mais tempo ao entretenimento e menos a grandes problemas e lutas sociais. Afirmam os defensores de uma “imprensa realmente livre” que os temas impostos pelos editores e programadores – agentes mais ou menos conscientes do capital – são concursos alienantes, a violência nas suas múltiplas frentes, a droga, o crime, o sexo, a subliteratura, o cotidiano e a vida amorosa de celebridades, a apologia do sucesso material, as férias em lugares paradisíacos, etc. Assim fariam para evitar que os cidadãos pensem. Esta seria a tarefa permanente dos media. É uma meia verdade. A mídia reflete a sociedade. Se as pessoas gostam disto são servidas pelo que gostam. Não é a Rede Globo que produz a deseducação, embora possa até multiplicá-la, mas, é a grande deseducação pública que gera a Globo como ela é. A Globo é competente: faz o que o público deseja. A política brasileira tem sido incompetente: gera a falta de educação e de cultura que induz a programação da Globo a ser o que é.

(*) É economista e Doutor em desenvolvimento sustentável pelo Núcleos de Altos Estudos Amazônicos-NAEA da Universidade Federal do Pará. 
 

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Fonte: Sílvio Persivo - silvio.persivo@gmail.com
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