Sexta-feira, 9 de dezembro de 2016 - 17h22
Silvio Persivo
O debate sobre a atual situação política brasileira é muito pobre. E estamos presos num círculo vicioso. É pobre porque carece de qualidade nas pessoas que compõem o parlamento, mas, é mais pobre ainda por causa das pessoas que também estão fora dele, de muitos que opinam, e não estão preparados nem entendem o mínimo sobre as necessidades do país. Infelizmente, o Brasil é um país desigual. E desigual em todos os sentidos não apenas da riqueza econômica. Devo dizer que me assusta muito mais a desigualdade da educação que elevou a postos básicos pessoas sem nenhum preparo, sem nenhuma noção da complexidade que está envolvida nos processos sociais. E pior, como não compreendem a complexidade, resumem-se a colocar a culpa nos outros seja FHC, seja o capitalismo, seja Temer ou qualquer um que possa virar um ser maligno para as massas. Assusto-me com pessoas que pensam que pensam; que confundem as ideias amparados pelo que Marx chamaria sem dó nem piedade de marxismo vulgar. A falsa noção de que pensam que falam e lutam pelos pobres, pelos despossuídos. Ou, mais grave ainda, de que bradar chavões em nome dos pobres os fazem donos da verdade e capazes de melhorar a vida de quem quer que seja.
Se, como é fácil de perceber, o problema brasileiro se encontra no histórico de desigualdades sociais que possui, e nem mesmo com programas governamentais têm sido superados, é preciso compreender a razão pela qual o Brasil não atinge altos níveis de desenvolvimento. E, neste sentido, ao contrário do que pregam as esquerdas, não é por não preencher eficazmente as necessidades sociais de sua população. Aliás, se é verdade que tivemos, no regime militar, uma visão de desenvolvimento restrita, no sentido de Amartya Sem, que ressaltavam o aspecto econômico, como a produção, o nível de consumo e a tecnologia, com o pensamento de que o desenvolvimento aparecesse como consequência do desenvolvimento econômico, nós, depois com o PT, passamos pelo dissabor de provar a concepção de não ser possível também se desenvolver via estado assistencialista e corporativista, nem mesmo amparado no marketing do atendimento ao “pobrezinho”.
Todos os especialistas em desenvolvimento sabem que não se faz desenvolvimento sem um governo com as contas equilibradas, sem instituições que funcionem, sem estabilidade para o mercado e para os negócios, sem empreendedorismo e sem educação. É verdade que a qualidade de vida e a inclusão social são alavancas do desenvolvimento, porém, o indivíduo, a livre iniciativa é sua base. Por esta razão, os que, hoje, se levantam, contra o ajuste das contas públicas, muitos pensando que estão na vanguarda de dias melhores, são, efetivamente, a massa de manobra dos aproveitadores e míopes que não veem que o mundo mudou. Não existe mais dicotomia entre sociedade de mercado e estatismo. Todo estatismo, comprovadamente, é uma forma disfarçada de ditadura. E quem acha que é possível um mundo fora do capitalismo, pelo menos nos próximos cem anos, ou quer se dar bem ou precisa rever o que anda bebendo ou cheirando. Sonhar é bom, mas, é preciso enfrentar a realidade de que, depois da farra de consumo e a utopia dos últimos treze anos, é preciso fazer o dever de casa. E o essencial dele é ter responsabilidade fiscal. Quem deseja um futuro melhor, e luta contra, está dando um tiro no pé. Não existe exemplo de país que cresça e se desenvolva sem as contas públicas equilibradas. Ser contra isto-independente de ideologia- só comprova a mais completa falta da mínima formação econômica.
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