Sexta-feira, 1 de abril de 2016 - 13h40
Silvio Persivo(*)
Na história e na política não é incomum que governos e políticos adotem medidas contrárias aos seus próprios interesses. Há uma obra que se tornou clássica de Barbara W. Tuchman denominada de “A Marcha da Insensatez”, que examina fatos em que isto aconteceu, de forma que Barbara acaba por considerar ser este um dos maiores paradoxos humanos: a insistência dos governos em adotarem políticas contrárias a seus próprios interesses. Porém, nenhum exemplo pode ser mais emblemático que, o que ocorre, hoje em dia, no Brasil. A trajetória do governo Dilma, neste segundo mandato, é uma bela comprovação da tese da marcha da insensatez.
A começar do fato de que, no primeiro momento depois de eleita, aliás, em uma eleição em que “fizeram o diabo”, como havia sido prometido, a presidente disse que estendia a mão à oposição. Se, efetivamente, fora as palavras, tivesse feito algo neste sentido, talvez, seu governo tivesse alguma viabilidade. Não o fez e, para piorar as coisas, adotou o programa do adversário, o programa que havia demonizado e hostilizado em toda a campanha eleitoral, pela metade, na medida em que vai contra tudo que o PT prega. Fez o que devia fazer, o que era pragmático. O aumento de consumo ancorado no crédito- motor da aprovação que Lula havia obtido-havia se esgotado no endividamento e o governo se afogava com o aumento da dívida e a queda de receitas externas das commodities. Não havia alternativa e se sabia disto bem antes das eleições. O problema real é que um governo, que prega o controle do mercado, somente tem programa quando o caixa está cheio. Sem recursos, e sem horizontes, a única preocupação, em dois anos de governo, foi a de continuar no poder. E continuou a fazer mais do mesmo, enquanto as condições se deterioravam com o aumento da inflação e dos gastos públicos. A investigação dos "malfeitos" da Petrobras, a Operação Lava Jato, fez o resto: acrescentou o carimbo da corrupção à uma administração desastrosa.
Nesta semana o Ibope aponta que 82% da população é contra sua forma de governar. Mesmo assim tentou trazer Lula para ver se termina seu mandato. Lula, com a imagem desfeita pelas acusações que o cercam, está fazendo o possível, e o impossível, para mantê-la. Reuniu as tropas e conseguiu até mesmo mobilizar os sindicalistas e alguns movimentos sociais movidos a verbas públicas para as ruas. Tenta oferecer os cargos que o PMDB entregou como moeda de troca para manter o mandato de Dilma. É insensatez em cima de insensatez. Ainda que Dilma escapasse do atual pedido de impeachment viriam outros. Mas, o impeachment será inevitável. A prisão de Silvinho Pereira e de Ronan Maria Pinto, na Operação Carbono, é um fechamento de cerco sobre Bumlai e Lula. Embora os cargos oferecidos sejam atraentes, políticos são animais sociais. Alimentam-se de um ego alto e de votos. O risco é muito grande. E, ao tentar ganhar na votação do Congresso, Lula e o governo apenas deixam claro que o impeachment é legítimo e, chega a ser irônico, que a presidente, no seu discurso de defesa, no Planalto, afirme que não cometeu crime de responsabilidade justificando as pedaladas com o pagamento de bolsa família e outros programas sociais. Igual a Lula, que depois de ser conduzido à força para depor, diz que não cometeu crime explicando que vive às custas “dos amigos” e levou 11 contêineres, quando saiu do Planalto, mas, não tem recursos para guardar “seus presentes”. E assim caminha a desumanidade.
(*) É professor de Economia com doutorado em Desenvolvimento Sócio-Econômico Ambiental pelo NAEA/UFPª.
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