Quarta-feira, 8 de dezembro de 2010 - 17h20
Apesar do tempo ter passado e, hoje, ser um homem sexy, isto é, sexagenário, não fosse os problemas normais da idade, é fato que nunca antes me senti tão bem comigo mesmo até mesmo para perdoar meus erros e viver, dentro do possível, da melhor maneira. E devo dizer que, criado como fui, num tempo de grande repressão, com todos os problemas que, hoje, existem, sou um homem mais de hoje que de ontem. Ao contrário de muitos contemporâneos meus, não gostaria de voltar ao passado. Hoje, as facilidades da vida moderna, os computadores, os celulares, as bugigangas eletrônicas, a liberdade de opinião, os avanços da democracia tudo me parece melhor mesmo quando lamento algumas coisas perdidas que, invariavelmente, passam pela educação.
Entre elas três coisas, particularmente, me desgostam que são um sintoma da perda da tecnologia dos bons costumes, da delicadeza que, de certa forma, sempre foi uma marca mesmo dos brasileiros mais ignorantes. Uma deles é a assunção do politicamente correto que, para meu espanto, só funciona como uso político. Dizer certas palavras, contar certas piadas, que sempre serão motivo de riso, virou crime, porém, não é criminoso, por exemplo, a enxurrada de nomes feios que passaram a ser lugar comum. No passado até esculhambação era uma palavra horrorosa. Hoje parece infantil. A segunda é uma decorrência da primeira ou efeito. Que sei eu? Mas, não concordo, de forma alguma, com a ideia, que é quase unânime, da “cultura do coitadinho”. Por trás do crescimento da violência esta a ideia, para mim errônea, de que se alguém é criminoso foram às famosas “condições de vida”. Não acredito e mesmo abomino isto na medida em que, muitas vezes, outros tiveram condições piores e, no entanto, não são criminosos, logo, é para mim, uma questão pessoal. A culpa, creio, é individual. Há o que se chama de livre arbítrio.
Talvez a terceira coisa que muito me desgosta venha de que existe uma crença, quase generalizada, de que os pais não devem ser duros com os filhos. Não devem castigar e, pasmem, nem dar umas palmadas, hoje, se pode. Para mim esta crença costuma levar a família a ser permissiva, não cobrar, não exigir respeito, não exercer a autoridade parental. Isto contribui para a dificuldade que muitos pais têm de estabelecer as regras necessárias a uma educação saudável e eficiente, que construa relações de respeito mútuo e a noção de hierarquia dentro e fora da família. Talvez até tenha errado neste sentido por ter sido, mesmo com todo o amor e o respeito que meu pai me despertou, um libertário e, até certo ponto, um desregrado. Hoje, a maturidade me faz pensar que se deve ter um equilíbrio entre o afeto e o limite. Limite visto como uma fronteira que não deve ser ultrapassada. O limite serve para conter, para formar uma barreira de proteção, mas, não deve inibir a espontaneidade. Limite inclui saber dizer não, estabelecer regras e cobrar responsabilidade. Só com limites as pessoas podem obter o desenvolvimento de um senso de justiça, de respeito aos outros. No momento em que os pais deixam seus filhos sem limites e correções, tiram também a chance de desenvolver sua autonomia moral e cognitiva, não os preparando para a vida. É a falta de limites que proporciona o festival de má educação que se assiste nas ruas, no trânsito, no completo desrespeito em relação ao direito alheio que, diariamente, aumenta a violência contra todos nós. Reconhecer seus limites é uma questão de educação e de maturidade e deve ser a primeira lição de casa.
(*) É doutor em Desenvolvimento Sustentável e professor de Economia.
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