Sexta-feira, 8 de setembro de 2023 - 11h15
Hoje, talvez por conta de um 7
de setembro tão diferente, tão distante dos belos dias da Independência de
outrora, me vi questionando as coisas. Isto porque, ultimamente, tenho sentido
vontade, mesmo sem ter mais o entusiasmo de outrora, de fazer poesias. Ora,
para que fazer poesias? Por que, vez por outra, sinto esta vontade de fazer (e
publicar) poesia. Qual o significado e o sentido que a poesia pode ter? Afinal
um poeta é bem menos importante do que um padeiro ou um marceneiro, nem falarei
de um escultor ou de um pintor. São pessoas que produzem coisas úteis. E, portanto
com mercado. E a poesia, mesmo sendo um trabalho tão real quanto qualquer um,
com a diferença de que trabalha com as palavras, não é, na verdade, um produto.
Ou é um produto, que mesmo válido como os outros, possui uma certa estranheza
por diversos fatores. O primeiro dele quem vi escrever melhor a respeito foi,
sem dúvida, Hans Magnus Enzensberger, que examinando a relação entre leitores e
poesia, afirmou, peremptoriamente, uma verdade incontestável “tanto quanto
sabemos, a poesia é o único meio de comunicação de massa cujos produtores
excedem em número os seus consumidores” e, com maestria deduz que “a poesia
revelou-se incompatível com as leis gerais do mercado”. Em segundo lugar, me
parece que a poesia ultrapassa sempre as palavras, a poesia, efetivamente, está
na vida, está no ar. Talvez, daí qualquer um que arruma as palavras se pretende
poeta- e quem vai dizer que não? Afinal, mesmo sem graça ou sem beleza, em que
a má poesia se distingue da boa se, no fim, o que ambas fazem, a única coisa
que fazem é produzir poemas tão belos, ou feios, quanto inúteis e que irão
depender de quem lê. E, hoje, o que se observa aqui, ali e em todo lugar, não é
bem a qualidade que proporciona a maior leitura e sim os meios de comunicação.
Muitos poetas maravilhosos dormem em gavetas, livros ou não conseguem aparecer
nos suplementos ou ter o espaço que a má poesia conquista- são as imperfeiçoes
também do mercado da poesia. O que se vê, por conseguinte é que há um número imenso
de poetas e a falta de meios, até porque viver do desempenho desta atividade é
quase como fazer voto de pobreza. E a pobreza da poesia também está em que se
trata de um ofício difícil, embora, para muitas pessoas, soe estranho a ideia
de que poesia seja um trabalho tão real quanto a de um pedreiro ou estivador,
com a diferença de ser mental. É mais lucrativo viver de esmola do que de
poesia. Na sociedade contemporânea, quando mais se necessita de poesia, mais
ela se enterra no limbo e só aparece para ser coadjuvante da imagem. E,
curioso, é também que nos ofícios as coisas são planejadas. Há uma planta da
casa ou uma receita do pão. Um poeta, na maioria das vezes, não sabe sobre o
que vai escrever nem como seu poema irá ficar. É sempre, queira ou não, um pulo
no escuro. O poeta não sabe o que é sua poesia antes de terminar. E não faz
pesquisa para saber quem vai consumir sua poesia. Na verdade, a poesia como
objeto de consumo não existe. Ninguém faz poesia pesando em quanto vai receber
por um poema. Nem tem ideia da quantidade de leitores. Ainda mais num país
enfermo onde, por conta do desgoverno, a falta de educação e o analfabetismo
aumenta, embora a poesia não necessite da palavra escrita para existir. Então
por que fazer poesia, dada sua inutilidade, e se, como já constataram, se trata
de “um dos mais tristes caminhos que levam a todas as partes”, no dizer de
Breton. Não serei eu quem darei resposta a isto, mas, penso que quanto mais
fragmentadas, fragéis, mais escuros os tempos mais os homens precisam sonhar. A
poesia é, para mim, a busca de sonhos.
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