Terça-feira, 30 de dezembro de 2014 - 21h18
Silvio Persivo
Que retrospectiva se pode fazer de 2014? Em termos de fatos não se pode dizer que não tenham existido muitos, embora, de fato, o Brasil viva mais de marketing, de escândalos e manchetes do que de qualquer outra coisa. Foi um ano do qual não se pode falar sem citar dois momentos que galvanizaram a atenção dos brasileiros e, por incrível que pareça, ambos marcados por duas grandes decepções: a Copa do Mundo e as eleições. Da Copa não se precisa falar grande coisa na medida em que os expressivos 7x1 são uma clara demonstração de que não somente perdemos, mas, que perdemos vergonhosamente. As eleições não são tão claras, todavia, um exame acurado mostra que foi outra vergonha imensa: os mais pobres e os menos escolarizados, por uma opção imediatista, por pressão, ou mesmo por utilitarismo, escolheram o caminho de mais do mesmo, ou seja, tentarmos manter a ilusão de que é possível ter dias melhores sem esforço, sem trabalho, sem educação e sem um projeto de futuro.
Não entro pelo caminho da corrupção, nem pela estigmatização do PT ou mesmo pelo evidente uso (e abuso) da máquina pública que, se não é nada recente, não justifica quem ganhou o poder em nome da mudança dos costumes. A questão, para mim, é mais ampla. É o fato de que já se havia comprovado amplamente que não se faz desenvolvimento via consumo (embora consumir mais seja um sinal de desenvolvimento), porque consumo é o caminho da procura e desenvolvimento (que, necessariamente, requer crescimento) é um caminho que só se trilha via oferta, via investimentos. A fórmula petista (aliás, gerada mais pelo acaso do que por um pensamento econômico construído) teve seus méritos ao utilizar o crescimento do crédito (em especial de longo prazo) como forma de aumentar o consumo. E foi, por longos anos, um instrumento para dar à impressão que se melhorou a renda e criar uma demanda real maior, mas, alcançou seus limites no endividamento e na falta de um ambiente econômico saudável que pudesse criar mais e melhores empresas e empregos (não os de baixa renda e distanciados dos setores produtivos de maior inovação).
Com os programas sociais diminuindo a procura por empregos se criou a ficção de ter encontrado o caminho mágico de distribuir renda e gerar desenvolvimento a partir do governo e, pior ainda, que o governo tudo pode. Para manter esta ficção (e o poder que ela confere) valeu tudo na última eleição e continuará valendo pelo resto do 2º mandato de Dilma. Porém, que futuro isto nos aponta? Não será, decerto, o futuro prometido, no passado, pelo ministro Mantega que nos prometia 15 anos de crescimento a taxas de 5%. O que vemos, no momento, é a recessão técnica da qual saímos para, quem sabe, crescer 2% no próximo ano. Isto se não fizerem o que vem fazendo, sistematicamente, e não afastam a possibilidade de voltar a fazer,de aumentar ainda mais os impostos. Impostos que já se encontram entre os maiores do mundo e inibem, junto com uma burocracia infernal, os investimentos. De forma que optamos por gerar mais incertezas do que buscar o caminho da mudança. Não tem, portanto, por este caminho nenhuma possibilidade de voltarmos a ser felizes como no passado. Nem mesmo a possibilidade mais de sermos endividados e felizes. Assim a retrospectiva, seja sob qualquer aspecto que fizermos de 2014, somente pode nos informar que continuamos onde sempre estivemos: empurrando os problemas com a barriga. E que há razões fundadas para pensar que 2015 tende a ser pior que 2014. Não é nada certo, mas, é uma projeção razoável da retrospectiva.
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