Quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 - 12h44
Silvio Persivo
Tragédias são coisas lamentáveis. Tragédias brasileiras são, a meu ver, coisas cotidianas na medida em que vivemos a tragédia permanente da mais completa falta de educação. É o que constato em relação a tragédia da região serrana do Rio de Janeiro e da afirmação, no mínimo, risível de que, finalmente, irá se implantar um sistema moderno de prevenção de tragédias como esta última. Não quero parecer indiferente nem tampouco crítico ou profeta de coisas acontecidas, mas, quem não sabe que a situação é a mesma em vários pontos do país na qual a miséria ou apenas o poder desrespeitando as leis se estabelece em áreas que não poderiam ser ocupadas? Já tive, em tempos passados, a função de implantar planos urbanos e, bem sei, como são desrespeitados e até mesmo destruídos pelas forças econômicas e políticas que não vêem senão os interesses imediatos.
Nem sabor de novidade, exceto na sua extensão, a tragédia tem, pois, Angra dos Reis, passou por um processo similar na passagem de 2009 para 2010, quando o Rio de Janeiro foi sacudido por uma tragédia igual de proporções menores. O que aconteceu? Lembro que logo depois começaram a bater os tambores e os tamborins anunciando o carnaval e o Brasil caiu no samba esquecido e curado, as providências adiadas como sempre, e tudo ficou como antes soterrado pelos ecos da folia. Este ano o carnaval será mais tarde e a tragédia foi maior, porém, quem duvida que o esquecimento será o mesmo? Não tenho a menor dúvida de que tragédia que, hoje, ocupa longas horas dos noticiários será relegada a segundo plano para dar passagem à alegoria carnavalesca e, depois dela, ao futebol, de forma que na folia e na bola continuaremos a esperar que as tragédias anunciadas não retornem, embora, os lúcidos, normalmente, ébrios, saibam que um país que desgraça sua juventude com a inércia e a falta de estudos não tem futuro.
Não, meus amigos, não pensem que estou amargo neste começo de ano. Estou bem comigo mesmo. Talvez nunca estive tão consciente da minha pequenez e de que sou uma pobre e teimosa voz a desejar que o Brasil dê certo, como disse Caetano Veloso, porque eu quero. O fato, porém, é que brigo, discuto, contrário meus próprios interesses para ser fiel a princípios e vejo que é uma luta vã. A tragédia real não é a da natureza que sempre causará problemas, mas, sim a triste, amarga e molhada, não da chuva, mas, das lágrimas que a ignorância coletiva cultua de não construirmos um amanhã melhor pela educação que é mera palavra para discursos políticos. Não serão as bolsas misérias nem as ajudas festeiras de última hora que darão dignidade aos brasileiros. Cidadania só existe como afirmação pessoal, como oposição ao outro, por isto não se outorga, não se dá. É preciso que se conquiste. A tragédia brasileira real é de esperarmos a libertação como uma dádiva. Não é. O Brasil sem tragédias só existira quando houver educação e representatividade política. Enquanto isto não existir seremos o eterno país do futuro.
(*) È doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª, professor Associado da Fundação Universidade de Rondônia-UNIR e conselheiro do Corecon/RO.
Fonte: Sílvio Persivo - silvio.persivo@gmail.com
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