Domingo, 23 de janeiro de 2011 - 11h05
Silvio Persivo
Leio comentários de analistas, e até mesmo de pessoas comuns, criticando que, depois de passada a eleição presidencial, com a vitória de Dilma Rousseff, se anuncia a volta de membros do Partido dos Trabalhadores que, a bem da verdade, nunca foram deixados de lado. Somente esperavam a oportunidade para reaparecer. Assim, não me parece nem novidade nem espantoso, que alguns dos caciques petistas, por conveniência defenestrados do poder por conta do envolvimento em episódios de corrupção, estejam de volta. É claro que os casos mais clamorosos são o do ex-deputado e ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, e de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, que estiveram envolvidos até o pescoço no chamado “escândalo do mensalão”, porém, há muitos mais que, passada a tempestade estão por aí gozando as benesses do poder.
Devo dizer que não sei mesmo qual o espanto. As indicações da “reabilitação” de petistas são históricas e notórias e começaram com o próprio Lula da Silva que jamais colocou em xeque seus aliados que, ao contrário dos outros, que cometem crimes, só cometem “erros” ou possuem “despesas não contabilizadas”. Efetivamente, por exemplo, José Dirceu, jamais esteve ausente das hostes petistas manobrando, apesar de ter oficialmente perdido seus direitos políticos, nos bastidores com uma desenvoltura não menor do que seu antagonista e detonador do “mensalão”, o presidente informal do PTB, Roberto Jefferson. Sabe-se que Zé Dirceu não apenas costurou acordos como foi vital para impor certas situações políticas, como nos bastidores se diz a respeito de Minas Gerais e do Ceará. Suas viagens pelo país, em jatinhos, por menos noticiadas que tenham sido, geraram fatos e demonstram que sua atividade política tem sido permanente. Ou seja, mesmo sem cargos, mesmo desprovido do mandato político, manteve-se sempre muito próximo do centro do poder neste tempo todo de domínio petista. Delúbio, é verdade, o mais estigmatizado, manteve obsequioso silêncio e, nas raras vezes, em que quis colocar a cabeça de fora foi advertido. Com razão na medida em que tesoureiro sem utilidade só atrapalha.
Embora estejamos nos tempos do Ficha Limpa, que foi defendido por interesses notórios do PT que visavam ganhar, como ganharam, o governo do Distrito Federal, ficha suja não existe no partido até porque, como disse explicitamente o líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), “nenhuma pena é eterna”. Porém, o perdão dos companheiros, que se ensaiava, se tornou impossível de não ser dado depois que, na posse, uma serelepe ex-ministra Chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, apareceu perdoada por um inquérito interno do governo. Assim, com tanta bondade no ar, qual a surpresa que, no ano em que o escândalo do “mensalão” deve começar a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a estratégia petista reabilite os que nunca se foram para desqualificar a dimensão dada ao caso e vender a versão de Lula de que tudo não passou de uma ficção para depô-lo do cargo? É só a continuidade da tarefa anunciada por Lula, em cujo governo vicejaram esta e outras denúncias de corrupção, da empreitada de desmistificar a existência do “mensalão”. Que providência mais efetiva para isto que reabilitar os inocentes companheiros? E, como Palocci já foi inocentado, e Genoíno convidado para ser assessor do Ministério de Defesa, que melhor ataque pode existir que resgatar a imagem de notórias personagens políticas atoladas em passado recente num lodaçal de denúncias.
Não importa que o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, tenha apontado a existência de uma verdadeira organização criminosa envolvendo políticos, empresários, publicitários e doleiros num grande esquema de compra de apoio político. Nem que a estimativa do procurador seja de que a quadrilha girou em torno de R$ 55 milhões (aliás, uma imensa subestimação) e tenha imputado aos envolvidos os crimes de corrupção ativa, passiva, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, peculato e falsidade ideológica. Para o projeto de poder petista a inocência deles é perene e justificada. Sem eles não haveria a tomada de poder. Por esta razão, de fato, não se trata de uma volta. Eles nunca foram.
Fonte: Sílvio Persivo - silvio.persivo@gmail.com
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