Segunda-feira, 20 de junho de 2016 - 17h43
Silvio Persivo(*)
Uma das coisas que, posso até não ter conseguido, mas, sempre tentei e continuo tentando é pensar, pensar por meus próprios parâmetros. Apesar de que as pessoas pensem que se trata de uma tarefa fácil não é. Tanto que me espanto com a quantidade de pessoas que, mesmo apresentando um vasto tempo de leitura, e até mesmo ostentando prestígio intelectual, são incapazes de escapar das prisões de uma ideologia. Em certos momentos, em que vejo como se expandiu a capacidade de reproduzir chavões, até tenho a impressão de que as pessoas perderam a capacidade de pensar, de raciocinar. É impressionante a quantidade de repetidores de ideias alheias, meros militantes de pensadores mortos e, pior, muitas vezes, se utilizando de uma repetição vazia, o que chamamos de vulgar mesmo.
A safra, por exemplo, são das pessoas de direitas, que pensam que são esquerdas, que, sem a menor capacidade de distinguir alho de bugalho, defendem, por exemplo, a aceitação fanática de ideias alheias a favor de bandeiras de justiça social, de defesa dos pobres, dos fracos e oprimidos. São os que louvam Cuba, por exemplo, e gozando das prerrogativas, ainda que boas, do nosso parco capitalismo, xingam, freneticamente, os outros de burgueses, coxinhas e outros adjetivos menos carinhosos ao defender o indefensável governo Dilma. São os grandes detentores da verdade, que continuam certos contra todas as evidências. São os mesmos que, antes, não viam problemas em Sarney, Renan, Jucá, Raupp & quejandos e, agora, os condenam veemente apenas porque estão a favor do “golpe”. Que golpe? O que as ruas, a população pedia? Um golpe, realmente, muito estranho.
É impressionante que, na era digital, de ondas contínuas de informações, ideias, e plataformas democráticas, com tantas informações, o fanatismo faça com que alguns acreditem que é a Rede Globo, a Veja e o Estadão que fazem a cabeça das pessoas. E, me causa mais espanto ainda, por ver que não são populares, como comumente se diz, mas, professores, mestres e doutores, que não conseguem enxergam por cima dos muros e grades das universidades. E se olham, não conseguem enxergar a realidade, envoltos no que pensam ser a salvação da humanidade, a ideologia marxista, socialista. Ideologia que só apresenta uma solução que é a de pegar em armas e lutar por suas ideias. Mas, para quê? Para implantar as ditaduras que já se mostraram sem futuro, como da extinta URSS ou de Cuba, em gradativa ( e longa) extinção.
O que é estranho, mais ainda, é que são os mesmos que criticam os xiitas por sua ignorância e seu fanatismo. São pessoas de ideias fixas que, desfrutando dos bens e prazeres que o capitalismo proporcionou, bradam contra os empresários, gananciosos, que “nada fazem de bom para a sociedade” esquecidos, porém, que são eles que produzem, que criam bens e serviços. Volto a dizer que não há futuro com sociedades dirigidas por governos totalitários. Que revoluções cubanas, russas, nazistas, fascistas são todas muito parecidas e somente satisfazem o desejo de alguns pelo poder. Não há verdades supremas nem incontestáveis e, se desejamos uma sociedade melhor, temos que aprender, em primeiro lugar, a deixar o fanatismo e o radicalismo de lado. Por causa deles, por causa de ideias que, supostamente, fariam o paraíso na terra, já morreram milhões. Por isto, se é verdade que o governo Temer é uma porcaria, ainda é mais puro que o governo passado. Já é uma depuração dele. Precisamos avançar. E só avançaremos com estabilidade e paz social. Sem superar o passado recente, sem sepultar, de vez, o governo passado, não avançaremos. Precisamos fazer isto nem que depois, se for o caso, também sepultemos o governo presente e interino. Toda economia somente melhora quando se tem estabilidade e perspectivas. Sem um governo permanente continuamos reféns dos ideólogos sem cabeça e da crise.
(*) É professor de Economia com doutorado em Desenvolvimento Sócio-Econômico Ambiental pelo NAEA/UFPª.
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