Sexta-feira, 7 de outubro de 2011 - 04h54
Silvio Persivo (*)
Estive esta semana conversando com o jornalista Paulo Vagner, do Portal Rondônia, sobre o futuro de Porto Velho depois das usinas. Confesso que foi uma conversa surpreendente e, ao mesmo tempo, estimulante por me fazer tentar exercer um dom de futurologia para o qual não estou minimamente preparado, embora muitas pessoas pensem que isto é uma coisa normal na cabeça de um economista. Não é ainda que seja verdade que os conhecimentos de economia proporcionam certas ferramentas que permitem prever alguns tipos de aumento de demandas e antever problemas. Para tentar matar a curiosidade intelectual do Paulo Vagner, no entanto, tive primeiro que esclarecer que, em Rondônia, para este tipo de exercício, falta inclusive o essencial que são estatísticas em série, estatísticas recentes e confiáveis. Não é um fato comum, mas, todo economista sabe que o grande legado de Keynes foi o de ir buscar na estatística o comportamento médio das variáveis econômicas e, a partir daí, tentar monitorar e controlar o comportamento da economia.
Quando se trata de Porto Velho, como esclareci, o problema é muito maior. A cidade já estava num ritmo de crescimento próximo dos dois dígitos antes do Complexo do Rio Madeira, um megainvestimento de construção de duas usinas ao mesmo tempo, algo raro em qualquer tempo e lugar. O segundo maior empreendimento do mundo com a maior obra do Brasil em execução. Era previsível que houvesse, como de fato aconteceu, um extraordinário crescimento da renda e da geração de emprego por causa do ciclo da construção das hidroelétricas. A cidade recebeu, conforme atestam os resultados preliminares do Censo, algo como 110 mil pessoas, o que foi quase 30% de acréscimo populacional, gerando diversos impactos socioeconômicos também previsíveis, inclusive o aumento trágico da violência e do trânsito. Em contrapartida, com três faculdades de Medicina em funcionamento, a transformação de Jacy-Paraná e a implantação de Nova Mutum há fatores que apontam novos caminhos para o futuro que, na minha opinião, são promissores. Porto Velho é, hoje, uma cidade universitária com mais de 22 mil estudantes de nível superior e, ao contrário do que muitos pensam, não terá grandes dificuldades para o pós usinas. Não se trata de previsão, mas, de dados e de lógica. É evidente que não cresceremos em níveis altos como temos crescido. Mas, como saldo das usinas, teremos uma estrutura muito melhor que ainda depende da governança local ser aprimorada. Nossos problemas não são tão grandes, porém, se faz necessário que haja uma melhor aplicação dos recursos públicos, um melhor planejamento do futuro e trabalho. Existem muito mais promessas, do que realidades efetivas, que precisam se tornar realidade.
É certo que o nível de atividade econômica, de geração de empregos e de renda deve cair no futuro. Já caiu com os recentes distúrbios de Jirau, porém, isto não significa voltar ao período de estagnação, nem aos níveis do passado. Depois das usinas entraremos num período de acomodação. Cerca de 70% da mão do obra formada, ou que aportou com formação, irá seguir o caminho natural dos “barrageiros”, trabalhadores que seguem as grandes obras de construção de hidroelétricas, e com o próprio fim das usinas as demandas serão menores. O nosso futuro, portanto, dependerá mais de nossa capacidade de gerir o pós usinas. De buscar consolidar a vocação de comércio e serviços de Porto Velho, o que significa construir um novo porto fluvial, duplicar a BR-364, que já tem previsão, concluir a BR-319, buscar implantar os projetos do gasoduto de Urucu, das eclusas e da ferrovia Cuiabá-Porto Velho e tornar nosso aeroporto, de fato, internacional, para aprofundar as relações comerciais com os países vizinhos. São projetos viáveis e exeqüíveis que, aliados a uma política de apoio aos micros e pequenos, parecem apontar no sentido de que o período difícil é ainda o que atravessamos, o durante as usinas, em que temos que conviver com uma demanda para a qual a cidade não estava e não está preparada. No meu entender, porém, o pior já passou e se tivermos uma melhora substancial de nossa capacidade política podemos chegar em 2020 com uma grande cidade que poderá ser motivo de orgulho para todos nós.
(*) É economista e doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA da UFPª.
Fonte: Sílvio Persivo - silvio.persivo@gmail.com
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