Sábado, 22 de agosto de 2015 - 05h54
Silvio Persivo (*)
Nesta semana o Sebrae de Rondônia concluiu o “Diagnóstico do Agronegócio do Leite e Derivados do Estado de Rondônia”, resultado de um convênio com a Secretária de Agricultura do Estado de Rondônia, SEAGRI-RO, que atualiza um trabalho anterior de 2002, com uma nova versão onde traz informações de relevância sobre o rebanho bovino, a produção, consumo, beneficiamento e a importância social do leite para os produtores de Rondônia. Na entrega do documento, que aconteceu no auditório do Sebrae, o professor e técnico da Embrapa, Lorildo Aldo Stock, fez uma excelente palestra onde destacou a necessidade de se cuidar da cadeia, de se ter boas informações e se criar uma política sólida de longo prazo. Destacando que, em Rondônia, como no Brasil, a pecuária leiteira ainda seja uma atividade de sobrevivência sua sustentabilidade depende de um tamanho mínimo da propriedade, do número de vacas e de um ambiente favorável onde exista uma intervenção estratégica para viabilizar o setor.
Contextualizando a produção do estado no Brasil e no mundo, o professor Stock ressaltou que, hoje, em dia qualquer que seja a atividade agropecuária, e a do leite em especial que se caracteriza por oscilações, em média, de dois anos ruins para um ano bom, não se pode perder de vista o panorama internacional, com seus parâmetros, tamanho e produtividade, que influenciam na formação dos preços. Neste sentido, por exemplo, mostrou que, apesar dos produtores reclamarem da importação, esta se dá apenas de forma complementar, mas, que os problemas que temos derivam de que nossos custos estão acima dos custos internacionais, daí, a nossa incapacidade de exportar. Também a exploração da pecuária leiteira no Brasil é desenvolvida de diversas formas, muitas vezes de maneira rústica e em pequenas propriedades, mas, são os empreendimentos maiores que são mais rentáveis e responsáveis pela maior parte da produção, ou seja, os estabelecimentos que possuem acima de cem vacas. Em Rondônia, as propriedades acima de 70 vacas são as que apresentam mais rentabilidade e a produtividade média está em torno de 10 litros/dia por vaca. Segundo informou isto não chega a ser um problema, na medida em que o modo como se criam as vacas no estado não permitiria vacas de alta rentabilidade leiteira que são mais sensíveis ao clima e ao tratamento, mas, o problema é que, para dar rentabilidade ao setor se faz necessário que se aumente o número de vacas, acima das 70, para valer à pena o recolhimento do leite. Outro problema sério é o da questão da qualidade e do aproveitamento. Segundo o estudo constata existe mesmo uma capacidade ociosa na indústria láctea estadual. Assim a questão de fortalecer a cadeia, de aumentar a produção, a produtividade e agregar valor ao leite se torna crucial para que o setor se consolide.
O agronegócio do leite e seus derivados, mesmo com todos os problemas existentes, pesa muito na economia do Estado por ocupar cerca de 100 mil pessoas nas propriedades rurais, que se constatou ter cerca de 38.000 estabelecimentos, afora um contingente acima de 5 mil pessoas que trabalham no setor industrial. Assim é preciso que haja uma conscientização da necessidade de um trabalho conjunto e organizado que crie uma agenda para o agronegócio do leite no longo prazo e se tome as medidas necessárias para organizar e beneficiar a produção. Com o diagnóstico, com informações atuais, se tem, agora, uma grande oportunidade de arregimentar os interessados e fortalecer a cadeia do leite e de seus derivados.
(*) É professor da UNIR de Economia Internacional e doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª.
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