Sexta-feira, 11 de setembro de 2015 - 05h04
Manifesto contra a morte da antropofagia
Silvio Persivo (*)
O Brasil, no passado, sempre produziu ideias interessantes. Mesmo nos seus primórdios havia o pensamento de um Antônio Vieira, de um Gregório de Matos, um Joaquim Nabuco, houve um Machado de Assis, um Santiago Dantas, os Mários e Oswalds, um Nelson Rodrigues, um Dorival Caymmi, um Jobim, um Gilberto Freyre, e, mais recente, um Vinícius, um originalíssimo canibal como foi Millôr Fernandes, enfim, pessoas que se apropriavam de ideias alheias para reelaborá-las. Vá lá é aceitável até incluir nisto a loucura de Glauber Rocha ou o tropicalismo já mumificado de Caetano Veloso. Havia neles a mesma e saborosa ideia indígena de comer a carne do inimigo para adquirir suas qualidades, habilidades, ou seja, o Brasil já teve, até algumas décadas, ideias próprias ainda que enraizadas numa matriz universal. Nós, como previa Darcy Ribeiro, prometíamos ser a nova Roma derivada da miscigenação das raças.
Não somos. Estamos no limbo da falta de reflexão. Num ponto onde se trocou o esforço pelo chavão, a realidade pelo marketing, a imagem de se ser uma coisa que não se é pela vitória da política dos improdutivos, o sindicalismo de resultados gerou a falsa ascensão social, pelo aumento do consumo, se vendendo a ideia de que é possível se chegar ao primeiro mundo sem educação, sem reflexão, por meio de pessoas que não valorizam nem buscam o saber, pela pregação do ódio aos melhores, pela adoção de ideias alheias sem nenhum senso crítico e até mesmo pela segregação da elite do pensamento, como se fosse possível construir um país sem ideias. Nunca o professor foi tão desprestigiado e ignorado como agora. A maioria das grandes universidades públicas estão em greve, os institutos técnicos também, nem o governo liga, nem a imprensa tem a menor consideração. Ideias não fazem falta. Vale muito mais a fala vazia de um ministro ou o esvaziamento de um pixuleco por um grupo de militantes pagos.
O Brasil está de costas para o futuro. Como se pode construir uma nação sem um projeto? Como se pode aceitar como normal ser dirigido por alguém que não consegue ler dezoito linhas ou não consegue alinhar três minutos de uma fala coerente? O Brasil que seria o país do futuro se encontra, como sempre, na fila do atraso. Aceitando, como uma avestruz enfiada na terra, que podemos continuar a ignorar as melhores práticas de outros lugares, que podemos crescer, desenvolver sem educação e sem conhecimento. Vivemos, infelizmente, uma época obscura de hegemonia dos que nunca trabalharam, dos que nunca pensaram, dos que pregam que é possível construir uma sociedade mais justa fazendo caridade com o chapéu alheio; que é possível se construir uma nação privilegiando os que não trabalham e aumentando os impostos de quem produz. Por isto estamos num desses momentos da história em que o país não produz nada de interessante. O país precisa de uma grande revolução cultural. O Brasil precisa resgatar a antropofagia, que sempre foi sua fonte de uma renovação total.
A grande realidade é que esta coisa da estatização, da venda desmedida da ideologia dos coitadinhos, gerou uma cultura da banalização, da mediocridade, de pessoas que se expressam pelo Facebook, ou Whatsapps, por gostar mesmo é da espetacularização, porém, é incapaz de escrever seriamente, de pensar com profundidade. Não há mais ideias novas, não há vanguarda, embora o mundo tenha mudado completamente. Qual a razão? Pessoas sem cultura, sem educação, são incapazes de refletir sobre o mundo. Elas dissertam sobre tudo, mas, não criam formas novas. Cadê o pensamento sobre como mudar o Brasil? Como mudar a escola? Só sabem repetir Paulo Freire ou Marx, Maiakovsky, Foucault ou até mesmo Lacan, mas, onde algo original? Não é com cotas, com novos impostos, com aumento de juros que faremos uma nação melhor. É com a educação das pessoas, com a criação de regras estáveis, com segurança e crença no que os governantes falam. Com menos governo e mais mercado, mais competitividade e ideias. O Brasil precisa fazer sua revolução cultural. Precisa revigorar o pensamento antropofágico.
(*) É doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª e professor de Economia Internacional da UNIR.
Ilustração: Tela de Theodor de Bry
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