Segunda-feira, 4 de junho de 2012 - 05h05
Silvio Persivo (*)
Há uma lenda urbana, muito ajudada pela crise da economia mundial de 2008, de que o Brasil se tornou mais importante e vai bem pela forma como suportou os efeitos da crise internacional em meio à piora das outras nações e que o país estaria numa espécie de lua de mel com o mercado internacional. Ora, costuma-se dizer que dinheiro não tem pai, nem mãe, nem pudor: vai para onde pode ter maior retorno e, no nosso caso, com as altas taxas de juros, talvez, as maiores do mundo, não é de supor que haja muito problema do capital especulativo vir buscar seus ricos dividendos por aqui. Urge acentuar que o que se comemora como melhora, a queda do risco Brasil, é, na verdade, a sinalização de que se pode vir sem receio buscar os maiores juros sem impostos no nosso mercado.
Temos estabilidade? Temos sim. Mas, esta estabilidade que significa, na prática, apenas que pagamos regularmente os juros da enorme e crescente dívida brasileira, não será capaz de nos garantir um futuro promissor sem as reformas reclamadas imemorialmente e sem atacar os problemas eternos da educação, das deficiências na área de infraestrutura, que continuam a engolir a nossa produtividade e competitividade, bem como o peso insustentável de um sistema tributário arcaico e complexo, que ajuda a inflar o chamado custo Brasil. Contra o otimismo governamental, que empurra com a barriga os problemas, se assiste a um processo gradativo de desindustrialização e a repetição do denominado “voo de galinha” que é a monótona repetição de um ou dois anos de crescimento alto, seguido de medidas de repressão contra inflação por não se possuir capacidade produtiva, nem investimentos, nem condições para se construir uma sustentabilidade de longo prazo.
Agora mesmo assistimos as previsões de crescimento para 2012 caindo rapidamente e crescendo o número de analistas que preveem um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) igual ou até mesmo inferior aos 2,7% registrados no ano passado. O resultado do PIB, divulgado na última sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstra que o país praticamente parou no primeiro trimestre deste ano, com um crescimento de apenas 0,2% em relação aos três últimos meses de 2011 e de 0,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o pior desempenho entre os países dos Brics e isto irá se repetir se não houver uma política para que tenhamos os necessários ganhos de produtividade, poupança e investimento para dar um novo impulso à economia brasileira.
Ninguém contesta que seja correto o governo tomar medidas para incentivar o mercado interno, mas, não faz seu dever de casa, como ocorre na China com a redução dos gastos públicos que possibilite aumentar seus investimentos. Ao contrário da China, com uma situação fiscal mais equacionada, o Brasil tem gastos elevados que limitam o seu aumento de investimentos e inibe maiores desonerações. Com carga tributária elevada, problemas de infraestrutura e burocracia, além da baixa taxa de investimento e sem fazer as melhorias devidas nas são áreas de educação, saúde, produtividade e ambiente de negócios, todo o otimismo que alimentamos será vão. Enquanto nossos dirigentes vivem se gabando de que estamos melhor que os outros continuaremos marcando passo. Não existe omelete sem quebrar os ovos.
(*) È professor de Economia da UNIR e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela NAEA/UFPª.
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