Quinta-feira, 20 de dezembro de 2012 - 16h47
Silvio Persivo (*)
Um grande estudioso do inconsciente, a porção não compreendida da mente, o psicólogo suíço Carl Gustav Jung, recuperou da alquimia medieval o termo “enantiodromia”, que, na sua concepção, teria o significado de que qualquer tipo de superabundância de uma força que produz o seu inverso. Assim, por exemplo, numa sociedade que cria muitos freios e contrapesos, que limita a liberdade individual e coletiva, o excesso de limites tenderá a gerar uma nova geração libertária. O oposto também é verdadeiro (e comprovado). O que há de interessante na ideia é que não deixa de ser um apelo e uma forma de equilibrar a sociedade, e as pessoas, o fato de que este movimento pendular se torna um processo que tende a compensar o que é danoso ao fluxo normal da energia psíquica, ou seja, o fato do excesso gerar o seu oposto serve para manter a saúde social e mental.
A ideia também é boa na medida em que possui o aspecto essencial da vida: a mudança constante. Há pessoas que se aferram a algumas ideias e não mudam e, em certas circunstâncias, até alcançam o sucesso desta forma, porém, se trata de casos excepcionais. O normal é a mudança, de vez que tudo muda mesmo que, como escreveu Tomasi di Lampedusa “Tudo deva mudar para que tudo fique como está”. Pensamento que traduz a certeza de que a mudança de costumes, a evolução das pessoas e da sociedade é muito mais lenta do que se pensa. Aliás, é preciso dizer aqui que nada tenho contra Dom Quixote e suas lutas contra moinhos. Até estimulo alguns. É necessário indispensável que existam os utópicos, os que sonhem com o mundo de amanhã, mas, a construção do futuro é lenta, exige esforços diários, humildade, menos individualismo e muito mais dialogo, construção de um grupo que pense da mesma forma, porém, pela discussão, pela construção de uma base comum de ideias, de uma constante troca de opiniões, num clima de liberdade e de diversidade. É indispensável que a energia flua, que as idéias mudem, que os conceitos se transformem, que se agregue pessoas para pensar e resolver os problemas da sociedade. Numa sociedade complexa como a atual não existe mais como as coisas serem resolvidas por um líder sozinho, por mais carismático e talentoso que seja. É claro que o personalismo existe, e sempre existirá. As grandes personalidades, os grandes líderes, são seres que são socialmente moldados pelas circunstâncias para ocuparem certos espaços e resolverem os problemas sociais com sua perseverança e força de vontade. No entanto, num mundo cada vez mais multifacetado, usando os símbolos do futebol, hoje, tão comuns na política, cada vez mais, o talento individual está sendo soterrado pelo jogo coletivo. Não basta apenas ter Neymar. É preciso que se possua uma equipe jogando junto para não virar Santos em dia de Barcelona. E, como comprovou o Corinthians este ano uma equipe jogando coletivamente é muito mais poderosa que apenas um ou alguns grandes jogadores jogando sem conjunto. Quando não se aprende na escola -dizem os sábios-a vida ou o campo ensina.
(*) É doutor em desenvolvimento sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA da Universidade Federal do Pará e professor de Economia Internacional da UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia.
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