Sábado, 19 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Silvio Persivo

Não podemos chamar o retrocesso


O mundo precisa de ordem. E a verdade que há uma certa ordem até mesmo no caos. Só os anarquistas, que não primam, aliás, por deixar de gostar das coisas que funcionam, das coisas bem ordenadas, é que são capazes de acreditar que a ordem não seja necessária. Aliás, o problema deles não é nem mesmo a ordem. Eles não gostam mesmo é que haja comando, governo, mas, sem estas coisas, aí, principalmente, com a complexidade do mundo moderno, é que nada funciona mesmo. A ordem, por menos que gostemos, dela é uma necessidade essencial. Claro que, mais jovem, também me rebelava contra a ordem estabelecida, mas, existiam razões sensíveis: o mundo era preto e branco. As coisas eram mais simples: havia um governo militar e se desejava a democracia. Era evidente quem estava de um lado ou de outro e o que se desejava era o que, hoje, existe: um governo eleito pelo voto.

Dos anos 80 em diante o mundo mudou muito e o Brasil muito mais. A democracia que foi conquistada a duras penas, porém, como se esperava, melhorou muito as coisas, sob os aspectos de liberdade e de opinião, porém, não resolveu, como era a ilusão reinante, os grandes problemas nacionais. O crescimento, por exemplo, não foi o mesmo do governo militar, seja porque, há que se reconhecer, os militares usaram a melhor capacidade técnica possível existente e fizeram, em áreas essenciais, escolhas que foram corretas. Fizeram uma enorme dívida pública? Fizeram. Porém, é inegável que criaram um Brasil muito maior economicamente e com possibilidades de pagar a dívida sem problemas. Foram as escolhas civis, o não pagamento dos juros da dívida externa e a falta de combate adequado à inflação que fizeram com que, entre 1986 e 1994, o país voltasse aos níveis de produção dos anos 70 com governos populistas que não faziam o que deveriam fazer. Só com o Plano Real, a coragem de Itamar Franco, e com uma equipe sob o comando de FHC, é que começamos a trilhar os caminhos corretos. A estabilidade, as reformas, as privatizações, a consolidação e o controle da dívida pública (que nem se sabia de quanto era) e a Lei de Responsabilidade Fiscal permitiram ao país viver uma nova realidade e consolidar o processo democrático.

A ascensão de Lula da Silva, mesmo saudado como o supra sumo do processo, sempre me pareceu um problema. Nada contra Lula, que tem seus evidentes méritos, mas, sua falta de determinação e preparo eram, sempre foram, evidentes. Não que seu governo não tenha tido méritos. O maior deles foi manter a receita e melhorar, de forma nem sempre adequada, o acesso dos pobres a uma vida melhor. Menos pela melhoria efetiva da renda do que pelo aumento do crédito, pois, saímos de um patamar de 24% do Produto Interno Bruto-PIB de crédito para os 49% do final de seu governo. O consumo interno aumentou muito é a pura verdade. Graças ao endividamento geral também é verdade. O que é essencial para termos um país melhor: valorizar o trabalho, a educação, criar serviços de qualidade, consolidar a burocracia pública, diminuir a carga tributária, melhorar a vida dos aposentados, porém, foram promessas esquecidas. Embalado no marketing e nos elevados índices de popularidade o líder petista criou um monstrengo: a satisfação completa dos muito ricos, uma ligação direta com a população mais carente por meio de benesses e o sufocamento das instituições, em especial, o Congresso pela cooptação econômica e por distribuição de cargos das oposições. A classe média, os servidores públicos, os militares pagaram a conta com aumento de impostos e queda de seus rendimentos.  No geral, sem contestação política,  Lula deixou as coisas correrem, empurrou os problemas com a barriga e elegeu sua sucessora fazendo os acordos mais espúrios possíveis e carregando consigo a carga de seu governo ter sido palco do maior escândalo público de todos os tempos. É esta herança maldita que uma Dilma atônita tenta equilibrar sem ter forças nem a percepção de que só desligando-se de seu criador e matando os monstros ocultos debaixo do tapete. Terá força e grandeza para isto? Não sei. Sei que sugerir plebiscito é uma solução insolúvel. Sei que, hoje, falta uma visão do que desejamos, de para onde desejamos ir. E o povo nas ruas, também sem lideranças e sem caminhos, é um perigo para o aventureirismo e as soluções de força. É tempo de se ter a calma e o bom senso de verificar que precisamos, em nome da democracia, dar uma trégua para que se possa pensar em soluções e não apenas pressionar um governo que, embora não seja nem um pouco o que desejo, foi eleito contra a minha vontade e, em respeito à democracia, não podemos fazer com que seja empurrado para as cordas e haja uma quebra da ordem isntitucional. É hora das lideranças conscientes começarem a dizer que é preciso que as manifestações de ruas tenham fim e o país volte à normalidade. Não há solução mágica e só com a democracia funcionado poderemos ter uma representatividade real e as mudanças que desejamos. Continuar indefinidamente protestando e parando as atividades econômicas é um convite ao retrocesso.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSábado, 19 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

O que o consumidor quer

O que o consumidor quer

Hoje em dia, com a sensação existente de que a inflação está corroendo o poder aquisitivo do brasileiro, há pesquisas que demonstram 48% dos consumi

Uma iniciativa louvável em prol da aviação na Amazônia

Uma iniciativa louvável em prol da aviação na Amazônia

Um dos grandes problemas da Amazônia, sem dúvida, provém das dificuldades de transporte interno, de vez que, por exemplo, entre Porto Velho e Arique

O transporte aéreo precisa mudar de modelo

O transporte aéreo precisa mudar de modelo

A GOL Linhas Aéreas divulgou que teve um prejuízo de R$ 6,07 bilhões em 2024, quase 5 vezes maior que em 2023, fruto da desvalorização cambial, do a

A fantástica trajetória de um desbravador da Amazônia

A fantástica trajetória de um desbravador da Amazônia

Hoje, no Facebook, o Lito Casara colocou um post onde lembra que, neste 20 de março, completa 85 anos da morte de Américo Casara, que aconteceu no j

Gente de Opinião Sábado, 19 de abril de 2025 | Porto Velho (RO)