Segunda-feira, 28 de março de 2016 - 17h47
Silvio Persivo(*)
Apesar do ex-presidente Lula ainda afirmar, numa coletiva a veículos internacionais, que o governo deve buscar uma “coalizão” com parte do PMDB que ajudará a barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, esta hipótese parece, cada vez mais, remota diante do andar da carruagem. Sua avaliação se assenta no passado, no tempo em que possuía credibilidade e governava. Hoje, ele e o governo gastaram seu capital de confiabilidade e passaram da hora de mudar. Não dá mais. Ainda que vá continuar lutando até o fim com o apoio de sindicalistas e militantes, não se tem mais dúvidas, segundo os melhores analistas, que, agora, a queda é só uma questão de tempo. Não adianta mais agrupar militantes para impedir um novo pedido de impeachment da OAB, nem buscar denegrir a entidade. O moinho da política se moveu e, até mesmo o ex-presidente Collor, que já passou por isto, sabe de sua inexorabilidade. Com Dilma, as coisas só piorarão e a população está avida por esperança que este governo não tem condições de suprir.
O anúncio de que o PMDB do Rio Janeiro se vergou à realidade foi a gota d’água. Com sua adesão irá todo o PMDB, e no seu rastro todos os partidos da base aliada abandonarão o governo. Com certeza só o PCdoB pode ser exceção por sua natureza, intrinsecamente, de esquerda, mas, ninguém, de sã consciência, nem internamente no governo, avalia, com realismo, que o governo não conseguirá obter 171 votos para impedir o impeachment, que será aprovado pela Câmara folgadamente. O Senado somente confirmará o afastamento, como o próprio presidente Renan Calheiros, mesmo contragosto, já admitiu. No Congresso, todos já trabalham com um governo de união nacional de Michel Temer, que tentará repetir a formula de Itamar Franco. Como não é Itamar Franco, e conviveu com o PT e seus desvios e erros, é inevitável que, no decorrer do processo, como já se iniciou com a fala do líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE) comecem a acusá-lo, por diversos meios, e tentar impedir o processo com o “risco Temer”, como afirmou Costa que o vice-presidente Michel Temer “será o próximo a cair” caso a presidente Dilma Rousseff sofra o que ele chamou de um “golpe constitucional” (pelo menos, já admitiu que o golpe não é golpe com a adjetivação).
Porém, um olhar para o futuro mostra que Michel Temer já se prepara para convocar um governo de união nacional. Ou seja, vai convocar todos os partidos para governar junto, indicar ministros e integrantes dos primeiros escalões do Executivo. É o mesmo método de Itamar que, na época, somente encontrou recusa por parte do PT. Talvez, agora, só o PSOL recuse, pois, o PCdoB não tem um histórico de resistir a cargos públicos. O novo governo deve enfrentar a “herança maldita” do PT: a maior crise econômica da história, o mais alto patamar de gastos públicos, uma inflação alta, o descontrole da dívida pública e a falta de investimentos. Será preciso tomar medidas difíceis, porém, é preciso dar o primeiro passo para recriar as condições para o país crescer. Não será um caminho fácil nem de recuperação rápida, mas, pelo menos, se acena com a esperança, que estava morrendo à míngua com um governo que, nos últimos três anos, somente cuidou de tentar se manter no poder.
(*) É professor de Economia com doutorado em Desenvolvimento Sócio-Econômico Ambiental pelo NAEA/UFPª.
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