Sábado, 1 de setembro de 2012 - 11h40
Silvio Persivo (*)
Não resta dúvida de que a taxa Selic chegou, nos últimos tempos, aos seus patamares mais baixos. Mas, ironicamente, por mais que o governo alardeie sua política de juros baixos, a grande realidade é a de que, na prática, a queda dos juros não foi para todos. Aliás, a bem da verdade tem sido para muitos poucos. Embora os clientes se queixem da desinformação e das dificuldades de conseguirem taxas mais baixas no próprio banco ou ao tentar migrar a dívida para outra instituição, a verdade é que os bancos adotaram políticas que somente beneficiam os clientes que não tem necessidade de crédito, ou seja, efetivamente, o crédito está mais difícil de ser acessado, mesmo por quem tem conta salário, renda mais alta ou investimentos no banco.
Principalmente para quem já está endividado, a grande maioria das famílias brasileiras conforme informam as consultorias e pesquisas existentes, os bancos fecham a porta na medida em que, se oferecem crédito mais barato, é mais que provável que sejam tomados créditos mais baratos para apenas quitar créditos mais antigos com juros mais altos, o que, para eles, avaliam, não é um bom negócio. Assim, depois de tentarem conseguir benesses do governo sem efeito, uma das primeiras coisas que os bancos fizeram, com a queda dos juros, foi logo diminuir as possibilidades de acesso ao crédito automático e nos limites do crédito pessoal e, ajudado, pelo acesso que, agora, possuem limitaram os montantes a serem emprestados pelos indivíduos e firmas. O reflexo imediato ocorreu sobre o produto na medida em que o consumo tem sido alimentado pelo crédito e, como conseqüência, caiu o produto e o investimento, daí, os níveis rasteiros de crescimento dos últimos trimestres.
O governo até tenta com os bancos públicos reverter esta onda baixando juros, porém, é um esforço setorial e prejudicado pela própria burocracia dos bancos estatais que, numa compensação para impedir níveis mais baixos de lucros, adota práticas draconianas, como acontece com o Banco do Brasil que, ao arrepio da lei e do bom senso, dias antes do vencimento de parcelas de algum tipo de contrato já arresta das contas por antecipação o que será debitado, num claro desrespeito aos direitos do correntista. Como resumo da ópera, temos que a queda da taxa de juros que deveria beneficiar os clientes acabou por gerar uma contenção de acesso ao crédito que piora o endividamento e a vida das pessoas. E, como os bancos são ligados às financeiras e a compra de veículos e bens, há um endurecimento geral das negociações e da forma de tratar os clientes. No caso de parcelas vencidas de financiamento de veículos, por exemplo, se chega ao cúmulo de, por um atraso, de uma ou duas parcelas se lançar todo o débito nos órgãos de controle de crédito prejudicando sensivelmente quem já se encontra com problemas.
Neste momento em que a taxa Selic chega a 7,5%, o que se tem percebido é que, para o consumidor, até agora, não se percebe os efeitos das medidas do governo de incentivo ao crédito e ao consumo, e por isto, sua postura tem sido cautelosa. Isto se reflete bem na queda do Índice de Confiança do Consumidor (ICC) que, recuou 1% de julho para agosto, depois de uma queda de 1,5% registrada no mês anterior. A constatação que se faz é a de que as medidas de estímulo não se refletiram no orçamento das famílias. No caso do governo, a economia feita com o menor custo dos juros, como também tem sido carreada para pagamento de juros, em nada refresca a economia. Não se sabe o que o governo irá fazer, porém, com o crédito contido, com as despesas públicas estacionadas, um endividamento alto e um menor investimento, somente por meios mágicos será possível fazer a economia alcançar um nível maior de crescimento, mesmo fazendo, como tem feito, desonerações setoriais que são como cibalena para doença grave. Pode até fazer com que o doente se sinta bem, mas, não resolve.
(*) É doutor em Desenvolvimento Sustentável e professor de Economia da UNIR.
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