Terça-feira, 25 de fevereiro de 2014 - 19h08
Silvio Persivo (*)
Tem sido quase uma formula consagrada dos governos petistas, o processo que se iniciou com Lula da Silva, de, nos dois primeiros anos de governo, agir com mão de ferro, sufocando as demandas sociais, para fazer os ajustes necessários e, no último ano, abrir as portas para fazer gastos e se reeleger. É um tipo de comportamento que tem dado certo, tanto que elegeu Dilma, mas, esta, pelo andar da carruagem, não adotou o sistema, o que pode influir, decisivamente na próxima eleição, apesar da passividade e da falta de uma maior capacidade de aproveitar os erros da política atual do governo.
Há, ainda mais problemas com a questão salarial, com sérios descontentamentos de amplas camadas do funcionalismo público, que, mal tiveram a recomposição das perdas, e com a legislação eleitoral que estão impedidos de ter aumentos neste período. Acrescente-se que, se no governo de Lula, já não havia um atendimento das reivindicações dos servidores e se adotou a prática de escalonar os salários por anos seguidos, numa forma disfarçada de fingir que melhora os salários, mas, na verdade, quando os funcionários recebem, acabam percebendo que a inflação “comeu” significativa parte do que seria, efetivamente, melhoria. No governo de Dilma, as negociações foram conduzidas com mão de ferro sem que, de fato, houvesse a menor flexibilidade em relação a muitas das reivindicações. Exceto os comissionados, o que se observa é que os funcionários públicos se encontram cada dia mais numa situação financeira mais aflitiva com a sua grande maioria endividada, via empréstimos consignados.
Acontece também que um dos erros primordiais da atual política do governo foi a de, no tempo errado, aumentar a taxa de juros comprimindo a taxa de crescimento da economia, o que, entre outras coisas, o obrigou a tomar medidas populistas para tentar aquecer a demanda como a diminuição do custo da energia, a manutenção do custo dos combustíveis fora da realidade e as desonerações, bem como a criação de formas de transferência de recursos para os mais pobres. O resultado todo mundo sabe: inflação e mais aumento da taxa de juros. Quando se erra a mão o jeito é buscar salvar o que é possível. É o que o governo tenta com um ajuste fiscal que corta R$ 44 bilhões e pretende alcançar um saldo primário, em 2014, de 1,9% do PIB-Produto Interno Bruto, a mesma taxa obtida em 2013, gerando um caixa de R$ 99 bilhões. É uma tentativa salgada na medida em que, ano de eleição, é ano de abrir as burras, ou seja, um ano complicado para realizar ajustes mais drásticos e que, com um governo que já tem problemas de apoio, desagrada significativa parcela dos políticos que precisam se reeleger e sem que suas promessas (de obras e recursos) sejam realizadas ficam numa situação difícil. O não atendimento de promessas e o corte de emendas de parlamentares, que são muitas, implica em atritos e pode significar importante perda de apoio político. Acrescente-se que, pelo lado das despesas, boa parte já é “carimbada”, sendo de difícil redução, e pelo das receitas, as dificuldades também são muitas, já que as desonerações (mesmo que com cortes) são essenciais para que o crescimento anêmico da economia (previsto para 1,67%) não fique pior ainda. O certo é que o governo não vem acertando a mão no tempero e, da forma que a cozinha anda, se houver uma pressão mais forte, o desacerto no tempero será inevitável. E, com o aumento da violência e as insatisfações com os serviços públicos, elementos é que não faltam para que a comida seja indigesta. Não é à-toa que já se observa, entre os militantes petistas, um movimento “Volta Lula”. É a constatação de que, apesar da falta de oposição, a má condução política está levando o partido à perda do poder.
(*) É Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª.
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