Terça-feira, 14 de janeiro de 2014 - 16h34
Silvio Persivo(*)
É certo que, no fim do ano, com a mudança do calendário até tentei reviver o otimismo relevando os problemas, como se fossem fruto de uma certa melancolia que sempre ataca as pessoas mais maduras. Como tento viver o presente, com o otimismo possível sobre o futuro, abomino a ideia de que o passado foi melhor, mas, ultimamente, está difícil, muito difícil mesmo, não pensar que foi. A questão é que, mesmo tentando exercitar o otimismo, houveram os assassinatos de pessoas na Zona Leste com tiros que, pelo menos, foi a versão passada, atingiram os que tiveram o azar de estar por ali. Depois houve o episódio de uma prisão no Porto Velho Shopping que espalhou um pânico geral. Porto Velho ficou uma capital, por uns dias, tomada pelo medo. É verdade que não se trata de uma síndrome local. Basta ver os ônibus depredados Brasil afora, os fechamentos de comércios, “rolezinhos”, as mortes, assaltos e roubos que infestam o noticiário. O crime parece ser, agora, a normalidade a tal ponto que ninguém mais nem liga. Aqui, famosos ou não, podem levar balas que não vão causar o mesmo espanto que houve na Venezuela, embora lá os homicídios sejam tão comuns quanto por cá, mas, talvez, não tão geograficamente dispersos.
É assustador que, embora todas as autoridades públicas, das mais altas as mais baixas, insistam em dizer que estamos seguros, por outro lado, todo anos se contabiliza cerca de 50 mil homicídios, o que é muito mais do que baixas de uma guerra, sem contar os mortos “informais” que, como não se desconhece, deve ser mais uns 5%, no mínimo, que não aparecem nas estatísticas. Mata-se muito mais por aqui do que em lugares mais conflituosos e muito mais desestruturados, como Burundi, Haiti ou Honduras. Podemos não ser campeões do mundo, mas, somos, proporcionalmente, os campões absolutos em taxa de homicídios. Sem contar com outros 40 mil brasileiros que são mortos no trânsito. Mas, como dizem nossas autoridades, nada de pânico. Está tudo sob controle. Comecei o ano com tal convicção.
A questão são os fatos. É o motorista que perde o controle dos ônibus e, pluft, mata e fere um bocado de pessoas. São os assaltos a caixas eletrônicos e bancos e, em especial, a ousadia cada vez maior dos bandidos com as mortes que suas ações causam. Em Porto Velho mataram um bandido num assalto. Em Campo Novo, depois de terem atacado um quartel e roubado armas, assaltado bancos e outros comércios, um grupo de elite da polícia matou oito dos dez assaltantes. Busco uma explicação para tanta violência no cotidiano e penso que a violência aumentou ainda mais com o desarmamento. Os bandidos ficaram mais afoitos. É muito menos provável que as pessoas de bem estejam armadas. Não posso deixar também de correlacionar estes fatos com os inacreditáveis índices de falta de educação dos brasileiros. Com o fato de que somente metade do contingente de jovens de 15 a 17 anos estão na escola; que os jovens brasileiros estão mais voltados para o trabalho do que para os estudos, que, enfim, nossa educação é um desastre completo. O governo que não consegue conter a ação dos bandidos nem mesmo dentro dos presídios é o mesmo que deseja tudo controlar, que deseja dizer ao cidadão até o que deve fazer, ou não, que tenta modernizar tudo que possa aumentar a arrecadação, no entanto, não faz o dever de casa mais elementar que é o de educar sua população. Como acreditar, então, no futuro? Como ser a favor de tanta incompetência? Como crer nos discursos maravilhosos de final de ano de que o pessimismo geral não tem base? Gostaria de saber, pois, tentei ser otimista, mas, fracassei antes dos primeiros quinze dias de janeiro. E não vou colocar a culpa nem na oposição nem na imprensa.
(*) É Doutor em Desenvolvimento Sócio-Ambiental pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA/UFPª.
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