Segunda-feira, 26 de março de 2012 - 07h05
Silvio Persivo (*)
Só o subdesenvolvimento ainda permite que se fale e se discuta a morte do socialismo, que se provou não utópico, mas, impraticável. Quem é de esquerda, no mundo atual, não luta por socialismo mais e sim por melhor distribuição de renda, por educação e por inclusão social. Por sinal, recentemente, David Rothkopf, o executivo-chefe e editor-geral da revista “Foreign Policy”, lançou um livro, intitulado “Power, Inc.”, sobre a rivalidade entre as grandes empresas e o governo, no qual aborda qual será o futuro do “capitalismo” e a forma que ele terá nos Estados Unidos ou em qualquer outro país. Com perspicácia argumenta que, enquanto na maior parte do século XX a grande disputa no mundo foi entre o capitalismo e o comunismo, com a vitória do capitalismo, a grande disputa no século XXI será sobre qual versão do capitalismo vencerá, qual será a mais eficiente para gerar crescimento e se tornar o tipo de capitalismo mais imitado.
No livro pergunta se “Será o capitalismo de Pequim, com características chinesas?” ou “Será o capitalismo do desenvolvimento democrático da Índia e do Brasil? Será o capitalismo empreendedor do estado pequeno de Cingapura ou Israel? Será o capitalismo europeu com rede de segurança? Ou será o capitalismo norte-americano?”. Mas, ele mesmo, se indaga se o capitalismo norte-americano hoje é sustentável e se permitirá que a grande nação prospere no século XXI. De certa forma Rothkopf põe em dúvida um aspecto vitorioso do capitalismo norte-americano que os outros tentaram imitar: o sucesso dos Estados Unidos em conseguir equilibrar, de forma saudável, o público e o privado. Lá, como pode bem se observar, o governo fornece, com competência, as instituições, leis, redes de segurança, educação, pesquisa e infraestrutura para fazer com que o setor privado inove, invista e assumindo os riscos, promova o crescimento e os empregos de uma forma democrática e competitiva.
Muitas pessoas não percebem, mas, este é um aspecto dos mais difíceis para se manter um equilíbrio adequado. No Brasil é evidente que há uma distorção- que já foi muito maior- do poder público, que interfere demasiado na vida privada, e promove, até hoje, um verdadeiro saque dos recursos da sociedade, via impostos, com uma péssima prestação de serviços. E a verdade é que, quando o setor público oprime o privado, além de promover uma regulação asfixiante, na prática, engessa o crescimento por meio da dívida pública e pela disputa do mercado que deixa de ser feita pela competitividade e passa a ser feita via política gerando os problemas de todos nós conhecidos, diagnosticados e jamais resolvidos. Os Estados Unidos, porém, sofreram, recentemente, do fenômeno oposto, a falta de regulação, a crise dos subprime de 2008, que foi um sintoma de que o setor privado invadiu o público e a regulação adequada deixou de ser feita. O bom, nos Estados Unidos, é que quando os erros são detectados, se pune e a opinião pública pesa para consertar as coisas. Mesmo assim se sabe que existem muitos problemas entre o ideal e a realidade.
O certo, no entanto, é que o capitalismo pode, ou não, ser compatível com uma boa distribuição de renda e com qualidade de vida. Em parte isto depende de um bom equilíbrio entre o público e o privado, da educação da população e da liberdade de imprensa. Os EUA provam que o capitalismo funciona melhor quando há este equilíbrio. Por tal razão precisamos, no Brasil, buscá-lo e jogar para a lata de lixo o caricatural debate entre governo e mercado (socialismo ou capitalismo) que é um debate para lá de ultrapassado. Quem o usa pode saber muito de poder, mas, esqueceu o que é história e conhecimento.
(*) É professor da UNIR e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela NAEA/UFPª.
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