Domingo, 2 de janeiro de 2011 - 21h05
É bem verdade que, no Brasil, as coisas só começam de fato depois do carnaval. No entanto, a posse de Dilma significa, na prática, o apito inicial do jogo. O recado das urnas foi o mais claro possível: as forças produtivas, as forças modernas do país, estão descontentes e exigem mudança. É verdade que, aliado ao coronelismo, o clientelismo oficial ganhou a eleição e um prazo de continuidade, porém, a um preço muito elevado, que o novo ministério, uma eclética junção de interesses contrastantes, obriga a ter uma dose muito grande de força para que alguma coisa ande, mas, se não andar o bicho pega.
A realidade de nosso país foi obscurecida pela enceradeira de Lula da Silva. Dando brilho ao piso ruim foi empurrando com a barriga, adiando as decisões necessárias e chegamos onde estamos: grande parte da população feliz de estar endividada, uma invasão de produtos chineses que desindustrializa o país e voltamos a ser agrário-exportadores, ao mundo pré-Juscelino até no toque pai dos pobres do governo passado. A propaganda oficial pode fazer tudo: pintar a vida de cor de rosa, eleger Dilma, tornar Lula um estadista, esconder a realidade da saúde, da educação e da infraestrutura aos pedaços, todavia, não tem como sustentar a situação econômica de um país que vem perdendo produção, empregos de qualidade e, especialmente, agregação de valor aos produtos e competitividade. A transferência de renda depende dos setores econômicos que produzem, porém, estes estão estafados de carga tributária elevada, de burocracia, de crédito caro e de sustentar uma ciranda de juros exorbitantes que somente serve aos banqueiros e aos rentistas.
È claro que o Brasil não vai piorar embora possa. Deve por um tempo continuar no mesmo ramerame. A questão é que o modelo que sustentou o PT, que é mais eleitoral e de propaganda que de crescimento real, está chegando aos seus limites e, na hora, em que o sempre bafejado Lula, o prestigiador das palavras, cai fora. A fórmula parece querer ser aplicar o mesmo modelo. Depois da gastança na farra eleitoral, o arrocho de mais dois anos e a volta da farra com um crescimento recorde para “mostrar” que tudo mudou. Nada mudou porque as bases são as mesmas. Lula com seu PACs e sua retórica de crescimento, apesar de ter pego céu de brigadeiro, durante todo o seu vôo, conseguiu, na média, 3,5% de crescimento contra 2,5% de Fernando Henrique, pegando crises e arrumando a casa, e conclui seu mandato com um produto e participação menor em relação ao resto do mundo. Ou seja, o país continuou seu voo de galinha e diminuiu de peso, embora, tenha a seu favor ter ligeiramente melhorado as condições de vida da base da pirâmide. A questão continua a ser que, o que sustenta a economia, é a produção e a produção competitiva. Para isto precisamos de educação, carga tributária compatível com o grau de desenvolvimento, governo eficiente, desburocratização e poupança interna. È uma agenda, sob o ponto de vista técnico, de todos conhecida. Terá Dilma Roussef capacidade de enfrentar os desafios que Lula não enfrentou? Este é o tamanho do desafio da criatura.
(*) È doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA/UFPª, professor Associado da Fundação Universidade de Rondônia-UNIR e conselheiro do Corecon/RO.
Fonte: Sílvio Persivo - silvio.persivo@gmail.com
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