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Silvio Persivo

OS INSIGNIFICANTES CONTRIBUINTES DERRUBARAM O GOVERNO


Silvio Persivo(*)

O que mais me impressiona, no atual processo de afastamento de Dilma Roussef, é o fato de que não somente ela, mas, também uma grande quantidade de pessoas, muitas, é verdade, por puro interesse financeiro, mas, outra parte significativa, por ideologia, não consegue enxergar a realidade e, permanece, insistindo na tese sem sentido de golpe e na visão tosca de que, agora, se terá um retrocesso nas políticas sociais. Aliás, nos dois pronunciamentos em que se despediu, Dilma Rousseff, voltou a tocar na mesma tecla de que iria se trocar o “presente róseo” do governo dela por um futuro sombrio, ignorando que este já chegou há muito tempo no seu próprio governo. É incapaz de admitir, o que é patente: seu mandato foi conquistado com o mais deslavado estelionato eleitoral. Inclusive acusando os adversários de que iriam fazer o que, depois, mal fecharam as urnas, fez, sem o mínimo pudor.

Dilma também tapou os olhos para as multidões que, nas ruas, pediam seu impeachment e, alega, ser vítima de um complô mafioso de Cunha e Temer. É risível. Basta verificar que seu governo conseguiu bater recordes de pedidos de impeachment: 50. Cunha só aceitou um, e restringindo o seu âmbito aos problemas contábeis, quando seria impensável não estender aos fatos do “Petrolão”, o que a Lava Jato apenas constatou, de vez, que há muito tempo já circulavam pelo país as acusações de desmandos na Petrobrás. Ela, por sinal, um ano antes, ocupando posto e cadeira de mando, publicamente desmentiu tudo e ainda acusou os que apontavam para os malfeitos de serem adversários do povo brasileiro, de antipatriotas! Se não bastasse isto afirma que está sendo injustiçada por ser honesta. Bem não me consta que se eleja alguém para roubar, mas, também, não para ocultar a verdade. E é impossível acreditar na completa honestidade de alguém cujos principais auxiliares, Giles Azevedo, Jacques Wagner, Edinho Silva, Gleisi Hofmann, Aluizio Mercadante, só para citar alguns, são todos apontados como envolvidos em transações obscuras. Sem contar que a sua mais fiel escudeira, Erenice Guerra, saiu da Casa Civil por motivos que todos sabem e até hoje, pipocam acusações contra ela. Não me cabe, nem sou juiz, ficar acusando ninguém, mas, como um observador da cena não posso deixar de constatar, e aí já é a justiça quem demonstra, que Dilma pode não ter feito nada, mas, os crimes que aconteceram foram sob o seu comando. O PT toda vez que é acusado alega, por exemplo, que o PP é quem tem mais parlamentares acusados na Lava Jato e que todos os partidos têm membros encrencados. É verdade. Mas, de onde saíram os recursos, quem era responsável pela gestão? Lula, Dilma e o PT. No mínimo, o impeachment já seria legítimo, até para Lula, pela omissão, pela negligência e, se não tiverem, como dizem que não, participado, pelo menos, responderiam por fazer vista grossa para o assalto aos cofres públicos. Querer tapar isto atribuindo os problemas reais que a catapultaram a um complô golpista e desqualificar um correto procedimento constitucional, ainda mais alegando que se trata de inconformidade das elites com as conquistas sociais, que, por sinal, se esfumaçaram, é um desserviço ao país, na medida em que muito pouca gente gosta ou se beneficia da pobreza. Se a pobreza fosse boa para os empresários e o lucro, a África seria o paraíso deles.

Seria mais lógico, e mais eficaz, reconhecer os erros, mas, a expressão mais qualificada do que pensa a cúpula petista veio mesmo da Amazônia, quando a senadora Vanessa Graziottin, uma das mais ilustres integrantes do grupo da chupeta no senado, afirmou “A classe média é analfabeta política e tem que ficar no seu lugar insignificante de contribuinte e deixa (sic) a esquerda intelectual garantir o futuro desta nação”. Como se observa, apesar de pregarem a igualdade, deixam bastante claro quem são nós, os analfabetos e insignificantes contribuintes, e eles, a esquerda intelectual, que, deve gerir o fruto do nosso trabalho, sem que possamos dar nenhum palpite. Foi esta visão que o povo nas ruas afastou do poder. Os insignificantes contribuintes desejam ser ouvidos e atendidos nos seus pleitos e rejeitaram o papel que haviam lhe dado de somente pagar as contas.

(*) É professor da UNIR-Fundação Universidade Federal de Rondônia de Economia Internacional e Professor Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA da Universidade Federal do Pará-UFPª.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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