Segunda-feira, 10 de junho de 2013 - 06h44
Silvio Persivo (*)
A situação econômica brasileira, com todos os problemas que apresenta, de vez que em recente avaliação da agência de classificação de risco a Standard&Poor's diminuiu, de neutra para negativa, a perspectiva de nota para a economia brasileira, é boa. Quando falo em boa, na verdade, estou apenas minimizando alguns profetas que falam que “o país está quebrado” que vem por aí uma crise violenta e outras previsões mais nefastas ainda. Não é esta uma probabilidade provável, ainda que possível, pois, tudo é possível, como também não dá para acreditar nas previsões otimistas do ministro Mercadante, que, como membro do governo, vê tudo cor de rosa, afirmando que o Brasil terá “um excelente segundo semestre”, graças ao pacote de investimentos do governo federal com o leilão de extração da camada pré-sal do Campo de Libra, a abertura de portos no Nordeste (depois da aprovação da Medida Provisória dos Portos) e das novas concessões para exploração da iniciativa privada de estradas, ferrovias e aeroportos.
Nem mesmo é crível acreditar no que afirma sobre as contas públicas no Brasil estarem sob controle. Se for correto, para efeito comparativo, citar que a dívida do Brasil equivale a 35% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto em países como Portugal, Estados Unidos e Japão, esta dívida chega a 125% do PIB, somente o partidarismo pode justificar a inverdade de que “O Brasil desendividou o Estado”, como disse Mercadante, quando, nunca antes neste país, se teve uma dívida tão alta (só trocaram a externa pela interna) e, ao contrário dos países citados, nós temos os juros mais altos do mundo e o superávit primário é aplicado, fundamentalmente, na manutenção dos lucros de bancos e rentistas. Com juros mais altos, com o endividamento também alto das famílias e o crédito mais difícil o inexplicável é que os empregos se mantenham altos, porém, o consumo teria que estacionar como estacionou. Porém, mesmo assim, os números mostram que estamos nos mantendo no mesmo patamar de consumo, às vezes, com uma injeçãozinha governamental de recursos, um pouco mais, um pouco menos.
Na última semana, pela terceira vez, o Boletim Focus, que aponta as previsões do mercado consultando os especialistas financeiros, mostraram que a estimativa dos analistas do mercado recuou de 2,93% para 2,77% em relação ao PIB de 2013 e, para 2014, a previsão de crescimento da economia brasileira caiu de 3,50% para 3,40%. Talvez na semana que se inicia com os resultados ruins do primeiro semestre a estimativa seja menor ainda. Mas, nada que assuste. O pessimismo que ronda alguns setores da indústria se justificam pela falta de medidas mais efetivas para que possam competir com o setor externo e do comércio em razão de que esperavam um crescimento maior que não acontece. Só a agropecuária navega em berço esplêndido alicerçada na venda de soja para a China. A questão real não é o presente onde nos manteremos como temos estado, mas, que não se criam condições para o futuro e sem reformas, sem incentivo ao setor produtivo para novos investimentos, continuaremos a ter níveis de crescimento medíocres sem criar o futuro que todos nós desejamos. O pessimismo ou otimismo exagerado sobre o presente é apenas prelúdio da eleição do próximo ano.
(*) É Economista com Doutorado em Desenvolvimento Sustentável pelo NAEA, escritor, poeta e professor de Economia Internacional e Planejamento Estratégico da UNIR.
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