Segunda-feira, 29 de agosto de 2016 - 09h13
Silvio Persivo
Postaram, no Facebook, no grupo Saudosismo Portovelhense, o primeiro ônibus de linha a chegar em Guajará-Mirim, em 1967. Isto me levou a pensar como os ônibus mudaram. E os usos e costumes desde quando, em meados da década de 70, aportei em Porto Velho. Ainda se comia tartarugas no seu Amorim, na Pedro II. No fim da tarde, havia um tacacá no centro ou ainda se comia uma boa maniçoba. Nem falo de caranguejo ou de deliciosas tapiocas no café da manhã. Mas, é da vida, as coisas passam. Porto Velho possuía um bom carnaval, festas juninas maravilhosas, procissões festivas, um ar provinciano e pacato que sumiu com o tempo.
Somem muitas coisas no tempo. O Luís Matos, um escritor de fatos e coisas do Guaporé, lembrava que sumiu o costume de dançar a “Desfeiteira”, dança típica do Vale do Guaporé ao som de acordeão, sanfona ou fole, qualquer nome que se queira dar, que podia ser acompanhada do pandeiro, se existisse, mas, invariavelmente, do bombo, um instrumento de percussão, feito artesanalmente de couro de viado retesado sobreposto a um pau oco de um metro. Um instrumento rústico de bom som, porém, de poucas notas, daí o som monótono e repetitivo, o mesmo tra-lá-lá sempre. Que era animado era. A diferença da dança consistia em que, quando o sanfoneiro parava, o par que se encontrasse na sua frente tinha obrigação de dizer um verso alto para todo mundo ouvir. Muitas vezes os versos que saíam eram irreverentes e havia pares que fugiam, mas, o sanfoneiro ia atrás para obrigar todos a declamar um verso. Muitos eram jocosos e, mesmo os imorais, eram de uma imoralidade implícita. Também sumiu o costume denominado “saca-borracho” (tira bêbado) que era o de, logo ao começar o baile, o dono da casa apresentar uma criança de colo como autoridade máxima. Se alguém se excedia na cachaça, logo aparecia o pai com a criança e o mandava dormir. Ia compulsoriamente, sem reclamações. Outro costume que desapareceu foi a parte do chapéu, que era um baile onde um dos dançantes aparecia com um chapéu e dançando colocava na cabeça do outro. Que procurava se livrar rápido, pois, se a parte terminava, a música parava, quem estava com o chapéu na cabeça pagava um litro de vinho para as damas. São costumes que se perderam no tempo. Como o famoso “Bloco da Cobra” são só saudosismo rondoniense.
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