Sábado, 7 de abril de 2012 - 07h05
Silvio Persivo (*)
Li um artigo do deputado José Aníbal, cujas boas intenções e o desejo de ver um país melhor me parecem incontestáveis, com o nome de “O fim da política sem sonho” em que louva o fato do PSDB ser um partido “que tem uma história de bons serviços prestados ao Brasil” e, que, por tal razão, precisava se renovar, daí, as prévias para a prefeitura de São Paulo, que, segundo ele, estabeleceu a representatividade partidária como critério para definir o candidato e, como resultado, foi um sucesso para rejuvesnecer o partido. O deputado, considera com razão, que nunca existiram tantos partidos e tão governistas, mas, a meu ver, erra feio quando afirma que, com as prévias, o seu partido voltou a fazer política.
Infelizmente não é verdade. Se há um partido que fez e faz política este, podem dizer o que quiserem, mas, é preciso reconhecer sua capacidade, é o Partido dos Trabalhadores, o PT. E faz política por ter conseguido se incrustar nas bases ao ponto de ter feito- como fez nos últimos anos- uma completa despolitização da política. A grande realidade é que, sob a batuta de Lula da Silva, o PT foi se infiltrando, utilizando com maestria a filosofia gramsciana da influência intelectual, em todas as organizações sociais, em especial nos sindicatos de trabalhadores, de tal forma que, quando Fernando Henrique era governo, teve que enfrentar, em condições externas adversas, uma enxurrada de greves e manifestações que chegaram ao ponto de pedir seu afastamento. Onde essas combativas organizações estão durante os mandatos petistas? A resposta é fácil de ser dada. Basta verificar quem ocupa postos significativos e rentáveis de governo, quem são as organizações que abocanham verbas públicas quase sem controle, nem cobrança de resultados. O PT que mobilizou as bases com promessas de mudanças é o mesmo que, no governo, as desmobilizou com os recursos públicos cooptando suas lideranças, daí, a enorme despolitização. As representações sociais, incluindo aí as grandes e tradicionais, perderam todo e qualquer compromisso com suas bases.
É neste contexto que qualquer partido, para fazer política, de fato, precisa mudar seu comportamento e acabar com o caciquismo e com a imobilidade. Neste sentido fazer as prévias é um fato novo, realmente, num partido como o PSDB onde a cúpula decidia sem ouvir as bases. Porém, somente isto não basta. É indispensável que os partidos passem a estudar a realidade, contestem os dados e o marketing político do governo. É indispensável que passem a vocalizar as aspirações populares. Deixem de ser o instrumento de políticos para ser o instrumento da política, ou seja, passem a formar lideranças, a discutir problemas locais e nacionais, a se insurgir contra um governo que, supostamente, construiu um país novo. Novo em que? Na dívida pública imensa, no endividamento em massa, na desindustrialização progressiva? No pagamento insuportável de juros? Na maior carga de impostos do Ocidente? Fazer política é desmanchar o conto de fadas de que estamos no melhor dos mundos possíveis. E, mesmo o PSD, que se construiu e pretende ser uma alternativa nova, ainda não deu um passo na direção de se postar como alternativa. Política com sonho é propor uma alternativa viável ao que aí está. E a sonolência e a preguiça com que os partidos se movem só faz bem ao PT. Que me desculpe o deputado José Aníbal, mas, não há nada de novo no horizonte.
(*) É doutor em desenvolvimento sustentável pelo NAEA/UFPª e professor de Economia da UNIR.
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