Domingo, 22 de julho de 2012 - 15h28
Silvio Persivo (*)
O Brasil, depois da redemocratização nos anos 80, experimentou o surgimento de uma redefinição dos papéis dos setores públicos e privados que resultou na consolidação de uma esfera autônoma da sociedade civil,na medida em que nosso país havia sido, mesmo durante todo o processo de modernização efetuado pelos militares, uma sociedade patriarcal e oligárquica que se destacava pelo sufocamento do setor privado sempre sujeito aos ditames do governante de plantão. A sociedade brasileira, mesmo com todos os avanços, jamais deixou de ser, efetivamente, uma sociedade mais estatal que de mercado porque o governo tentava controlar e ditar o que se deveria e como se deveria construir o desenvolvimento. No centro de tudo a falta de construção do que costumamos chamar de cidadania. Desenvolver, em seus termos finais, é construir a cidadania, permitir que os cidadãos possam ter as mesmas oportunidades, certeza de horizontes e justiça social.
Mas, somente com liberdade política e econômica é possível construir cidadãos. Minhas objeções aos programas assistencialistas não são porque não sejam necessários, mas, sim que devem ser meios de melhoria da vida e não fim ou solução para os que deles necessitam. E não posso deixar de confessar que, ao contrário do passado quando possuía uma crença no estado como agente de solução social, hoje, mantenho uma enorme margem de desconfiança de quem o prega como caminho de melhoria de vida. Afinal, quem defende sempre está empoleirado no poder e o poder, como bem sabe quem já se aproximou dele, não costuma ter preocupações que não sejam o da sua manutenção, seja das pessoas seja de partidos.
A história brasileira moderna, da construção de uma cidadania maior, de fato, não surgiu do estado, mas, da contestação ao estado, da criação de novos espaços e formas de participação e relacionamento com o poder público que foram construídos por demandas e lutas de resistência da população e de movimentos sociais que deixaram claro sua capacidade de auto-organizar-se e de lutar por seus direitos. Em parte a apatia política em que vivemos provém do desmanche que Lula da Silva realizou dessa agitação antigovernista expressa em greves e demandas públicas, ao cooptar os movimentos populares e sindicatos, e sedá-los com benesses e cargos públicos, despolitizando os setores mais reivindicativos e impedindo que houvesse um processo de crescimento dessas esferas. Hoje, o PT paga o preço de ter se descaracterizado, de empobrecer depois de ter sido o único partido que chegou a criar capilaridades sociais e as jogou fora pela manutenção do poder no curto prazo.
Como resultado da estagnação do processo político, o Brasil vive à míngua de novas ideias. A política, infelizmente com a ajuda da imprensa na sua grande parte, é gerida pelos balcões de negócios. Sem as reformas políticas, das relações de trabalho e tributária, cuja oportunidade de fazer é sempre protelada por medidas pontuais, nós estamos nos desindustrializando e ficando sem competitividade, sem futuro mesmo. Anunciam-se pacotes disto, daquilo e daquilo outro, mas, não se muda o rumo, não se tem a coragem de fazer o que deve ser feito. E empurrando com a barriga somente vamos de eleição em eleição vendendo a ilusão de que tudo está bem. Mas, como tudo tem limite, empurrar com a barriga é uma forma de agravar os problemas até que a insatisfação volte a empurrar a população contra o governo. E isto, por ironia, parece que irá acontecer não por meio da política, que dorme em berço esplendido, mas, pelos sintomas econômicos que se refletem nas greves, no endividamento e na queda do consumo. Fazendo mais do mesmo, como tem sido feito, as coisas tenderão a piorar. Não há refeição grátis, como sabem todos que precisam ganhar o pão de cada dia.
(*) É doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA/UFPª e professor de Economia Internacional da Fundação Universidade Federal de Rondônia-UNIR.
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