Segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016 - 06h04
Silvio Persivo (*)
Li, praticamente, sem parar o excelente livro de Marcone Formiga “Em Nome da Verdade-Cartas para o meu neto”, publicado pela Editora Dom Quixote, 2004. Trata-se de um testemunho importante de quem conviveu de perto com muitos dos personagens que fizeram parte da história recente do país. Como um bom repórter, que sempre foi, Marcone, que desenvolveu uma escrita marcadamente jornalística durante sua vitoriosa carreira, consegue, com habilidade e segurança, manter o leitor atento aos fatos que narra e curioso pelo que pode oferecer e, creiam, oferece muito para quem se interessa em ver além das versões correntes e sentir, um pouco, como os mecanismos do poder são acionados.
Embora não se isente de fazer julgamentos, e muitos deles, mesmo nas entrelinhas, extremamente duros, o repórter, que sempre viveu nele, tenta, na medida do possível, se ater aos fatos e julgar com a isenção possível. De fato, como uma testemunha de muitas histórias recentes do poder, Marcone Formiga nos faz visitar, e não se exime de tentar traçar um perfil, de figuras tão diversas quanto às de Jânio Quadros, João Agripino, Petrônio Portela, Geisel, Figueiredo, Golbery, Collor e tantos outros que se tornaria exaustivo, e tiraria o prazer de descobrir na leitura um desfile de novidades, bem como os caminhos que o levaram a participar da proximidade de tais figuras.
Como uma espécie de colunista social-mór de Brasília, na prática conviveu ou conheceu todas as pessoas que foram fundamentais para a cidade, como um jornalista que cobriu durante anos o Planalto e um editor da revista “Brasília Em dia”, onde fez das entrevistas uma espécie de confessionário e repositório de ideias, Marcone, foi um espectador privilegiado de muitas coisas que ele, sem sensacionalismo, mas, com o intuito de esclarecer e desvendar aspectos, mostra com serenidade e com sua visão liberal e crítica de um jornalista que sempre procurou se pautar pela ética. Mesmo quando relata sucessos de sua jornada não se abstém de mostrar que, além de muito trabalho, contou com a sorte, embora está tenha tido muita ajuda de seu faro de repórter.
O livro, além de ser um repositório de memórias, tem também o mérito de dar testemunhos insuspeitos sobre muitas figuras, inclusive resgatando a verdade de certos comportamentos. É o que faz quando revela que o ex-ministro Mário Andreazza, sempre visto como um aproveitador do poder, uma espécie de padrão de corrupção, na verdade, exerceu o poder e, gostava dele e de sua pompa, não para tirar proveito pessoal e sim como uma forma de fazer coisas, de buscar melhorar a vida brasileira. Morreu, como aconteceu com o governador de Rondônia, Jorge Teixeira de Oliveira, que teve um poder imperial naquele estado, com problemas financeiros e dependendo da assistência de amigos. Por essas revelações, e outras tão interessantes como esclarecedoras, o livro de Marcone nos sabe a uma boa aula de jornalismo, história e de política. E tudo isto, sem esforço, de vez que é uma leitura extremamente saborosa.
(*) É professor da UNIR-Fundação Universidade Federal de Rondônia de Economia Internacional e Professor Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA da Universidade Federal do Pará-UFPª.
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