Segunda-feira, 18 de julho de 2011 - 12h10
Silvio Persivo
Tive a oportunidade singular de participar, em Juiz de Fora, do “Fórum das Américas: Leite e Derivados”, realizado entre 12 e 14 de julho, na Expominas, pela Embrapa Gado de Leite, que teve como um dos seus pontos altos o “3º Workshop de Qualidade do Leite” com palestras imensamente instrutivas sobre o setor, especialmente pela presença de uma missão chinesa que trouxe 21 membros de diversos setores do grande país asiático. Aprendi muito sobre leite e, mais ainda, sobre os problemas do setor no Brasil e na China, o que foi um brinde inesperado.
Não se pode deixar de considerar que, com 1,3 bilhão de consumidores, a China deve permanecer como a locomotiva do desenvolvimento mundial e mercado potencial de muitos produtos dada a baixa capacidade de respostas da produção local à sua necessidade de consumo. Isto também acontece no setor lácteo no qual o consumo no ano passado foi de 41 bilhões de litros, dos quais 4,3 bilhões importados), porém, é preciso considerar que o crescimento da demanda interna tem sido acima de 8% o que representa, no mínimo, a necessidade de mais 3,2 bilhões de litros/ano. E mesmo que, no Norte do país, existam fazendas gigantescas, com mais de 10 mil vacas, ficou bastante explicito nas diversas palestras que a capacidade de crescimento da produção é bastante restrita face aos problemas de falta de tecnologia, de insumos, em especial ração para o gado, as práticas rudimentares, na sua grande maioria nas pequenas propriedades, e a questão ambiental que é grave dado o fato que o setor responde por 41,9% da emissão de gás na China.
É verdade que os chineses são bons planejadores e pensam a longo prazo. Há planos e diretrizes que procuram equilibrar a oferta e a procura de lacticínios até 2020, mas, o grande problema-como apontou o técnico do Ministério de Desenvolvimento e Comércio Exterior, Benedito Rosa do Espírito Santo- é que, em dez anos, o consumo na China aumentou 102% contra um aumento na produção de apenas 72%, ou seja, não se trata apenas de absorver o aumento do consumo como também de acabar com um passivo acumulado. Assim a China, apesar de ser o terceiro maior produtor de leite do mundo, atrás apenas da Índia, o maior de todos, e dos EUA, deve se conservar sendo um grande importador para suprir suas necessidades futuras. No entanto, as limitações para que essas oportunidades sejam aproveitadas pelo Brasil são enormes. Embora, para muitos, seja inviável, pela valorização do Real, as questões são mais profundas. É evidente que o Brasil tem custos absurdos derivados de impostos, porém, também, mesmo para um leigo como eu, ficou claro que nós temos problemas de qualidade das práticas, do rebanho e dos produtos. Avançamos muito em tecnologias, porém, ainda há muito a ser feito. E não há, pelo visto, grandes possibilidades de intercâmbio com a China no setor, exceto em programas comuns de melhoria da produção e da genética. De qualquer forma há uma grande oportunidade de cooperação entre Brasil e China neste setor que não deve ser desperdiçada e Rondônia, até por seu clima tropical, tem uma excelente oportunidade para ser um elo importante desta cooperação.
Fonte: Sílvio Persivo - silvio.persivo@gmail.com
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