Terça-feira, 23 de julho de 2013 - 08h50
Silvio Persivo(*)
Considerado um dos mais brilhantes economistas do Brasil, com participação na elaboração dos Planos Cruzado e Real, o Doutor em Economia e economista André Lara Resende, numa entrevista veiculada no Estado de São Paulo, no dia 07 de julho último, sob o título “Projeto do PT parece o do regime militar”, afirma que o mix de políticas do governo federal está equivocado, pois, para que a economia melhore será indispensável que se estimule a oferta de moedas e os investimentos e não, como tem sido feito, estimular a demanda e o aumento dos gastos públicos correntes.
Segundo ele, “Espantamos o investimento estrangeiro de longo prazo com a falta de estabilidade das regras, com uma regulação barroca e discriminatória, com uma política macroeconômica incompetente e a opção pelo capitalismo de Estado”. E complementa que “A partir de 2008, o PT adotou um projeto anacrônico. O curioso é que ele é parecido com o do regime militar. Esse projeto está levando ao crescimento medíocre. O governo usou o pretexto da crise financeira nos países avançados para aumentar os gastos públicos e dar estímulos ao consumo”. Também afirmou que “Se após a crise de 2008 fosse para fazer política macroeconômica anticíclica (conjunto de medidas que em período de retração econômica incluem redução de tributos, aumento do crédito e do gasto público para ativar a economia), a opção correta teria sido baixar os juros e não aumentar os gastos”.
E criticando a falta de aproveitamento do Brasil em relação ao otimismo do mundo em relação ao nosso país declara que “Perdemos, é verdade, uma grande oportunidade”. E segue dizendo que “Deveríamos ter aproveitado a oportunidade para investir mais e melhor na infraestrutura e na educação, principais fatores determinantes da produtividade”. E fazendo um chamamento para a revisão do modelo de crescimento econômico brasileiro afirma que “O projeto de desenvolvimento do século 21 deve levar em conta as evidências de que o bem estar depende da qualidade de vida, cujos elementos fundamentais são o sentido de comunidade e a confiança nos concidadãos, a saúde, o tempo com a família e os amigos e a ausência de stress emocional. As grandes propostas totalizantes ideológicas deixaram de fazer sentido”.
E, como um analista preciso, completa “Hoje o que importa são questões concretas relativas ao cotidiano, à eficiência administrativa. É preciso rever um Estado que absorve 36% da renda nacional, mas, investe menos de 3% e consome grande parte dos recursos para sua própria operação. O Estado não pode continuar a ser percebido como um expropriador ilegítimo de uma fatia expressiva da renda da sociedade, sem contrapartida de serviços à altura, como um criador de dificuldades em todas as esferas da vida”.
Não é preciso mais tecer muitos comentários no que está muito bem colocado. De certa forma um Estado é melhor quanto menos incomoda o cidadão, quanto mais suas regras são estáveis e permite maior previsibilidade e transparência nos negócios. O que André Lara Resende colocou, com propriedade, é que as ruas pediram seriedade e eficiência do Estado e, isto somente será possível, com a revisão do projeto político que se encontra em andamento. Não se trata apenas de um crescimento maior, ou menor do Produto Interno Bruto-PIB, se trata de que ou mudamos nossa política macroeconômica ou, de fato, tenderemos a piorar ainda mais os nossos problemas que já são imensos.
(*) É economista e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos-NAEA da UFPª.
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