Segunda-feira, 31 de outubro de 2016 - 18h20
Nós, brasileiros, somos um povo inculto e belo. Até já pensamos, criamos a ilusão, recentemente, de ter futuro sem trabalhar, de ter direitos sem ter deveres, a versão tupiniquim de um paraíso lulista, um líder de sindicato que sempre pensou ser legal viver às custas dos outros. Mas, está longe de mim desejar criticar Lula, agora, quando começa a enfrentar seu inferno astral. Meu tema é a dificuldade do país avançar com o arremedo de democracia que criamos, com o nível de educação que tem a nossa população, de vez que a grande verdade é que nossos políticos-por mais que se reclamem deles- reflete, como uma amostra de qualidade, aliás, o nível de nossa cultura.
As eleições municipais, neste momento, refletirão isto. Tivemos que escolher entre candidatos que, em sua grande maioria, não representam nossos anseios. E, muito pior, no meio de uma disputa que aparentou ser mais uma batalha de lama do que uma disputa de propostas. Não estou desejando julgar ninguém. Nem, como podem pensar alguns, a questão se resuma a Porto Velho, embora também se inclua no mesmo balaio. A definitiva sentença dessas eleições foi dada pela quantidade imensa, em todo o país, dos votos invalidados. Trata-se, como se verificou, de um fenômeno nacional. Há um descompasso imenso entre o que se deseja e o que nos é oferecido. Ainda hoje fui abordado por um jornalista que me colocou entre a cruz e a espada em relação ao futuro pleito para presidente ao perguntar se seria Ciro Gomes ou Bolsonaro! Não me deixem em tal situação que me considero incapaz de ter uma resposta sequer razoável. Cada um, como diz a canção popular, “sabe a dor e a delícia de ser o que é”, porém, um dos requisitos que considero essenciais para se exercer liderança é a maturidade, o que não vejo nos nomes citados. E a conversa me deixou, efetivamente, preocupado com os rumos futuros do país.
Consolei-me ao pensar na sociedade norte-americana onde há um Bob Dylan que recusa o Nobel que lhe é dado de modo muito duvidoso. Ele, um sábio, nem se deu ao trabalho de recusar formalmente. Mas, os norte-americanos conquistaram muito mais este prêmio do que qualquer outro país. E em setores muito mais significativos como física, química, medicina. Como em muitas outras coisas dão um banho, pois, se somar os cinco países que vem depois (Reino Unido, Alemanha, França, Suécia e Rússia) eles conquistaram mais Nobel do que todos juntos. Não por acaso. Não só possuem a primeira universidade do mundo, Harvard, como mais 12 entre as quinze classificadas como melhores. E são inventivos, competitivos, com instituições consolidadas. O que me consola diante disto? Estão escolhendo entre Hillary Clinton e Donald Trump. Ou seja, se eles que já amadureceram, já educaram uma grande parte de sua sociedade estão num dilema como este, então, nós temos salvação sim. Volto a acreditar, com toda a mediocridade, que Darcy Ribeiro tem razão: somos a Roma do futuro. Claro que uma Roma que acontece uma segunda vez dará razão à Marx. O Brasil, no entanto, jamais esquecerá De Gaulle.
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