Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Vinício Carrilho

20 anos do impeachment de Collor


Às vésperas de completar vinte anos do impeachment de Fernando Collor de Melo (29/09/1992), muitas coisas permanecem no subterrâneo da verdade – a exemplo do assassinato do caixa-dois PC Farias. Mas são outras histórias, hoje quero tratar de um possível problema jurídico ocorrido à época e que voltou à tona, após o Golpe de Estado no Paraguai.Gente de Opinião

Ocorre que, tal qual o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo, para alguns houve golpe institucional contra a presidência de Collor. Pelo que me lembro, a vontade de retirá-lo do posto era tão grande que pouco se falou sobre isso. Mas e hoje, pensando-se a partir de tantos casos de golpes pelo mundo, caberia o paralelo?

O paralelo político mais destacado no período foi com o escândalo conhecido como Watergate, do ex-presidente estadunidense Richard Nixon que renunciou em 1973. Também foi dito que Nixon não passou pela exclusão política, uma vez que a renúncia fora feita em tempo hábil; ao passo que Collor retardara o quanto pode, até que a sessão de apuramento do impeachment estivesse funcionando e os votos contrários apurados fossem muitos.

Para alguns analistas, Nixon também renunciou, porém, depois que vira confirmada sua derrota política – o que lhe renderia o primeiro prêmio de impeachment da história. O episódio, aliás, é retratado como ícone da legislação protetora contra abusos de poder.

O fato de um presidente eleito democraticamente, quer dizer, pela via direta do voto, ser destituído do seu posto configuraria ou não golpe institucional? Para os críticos, é como usar a lei de proteção da democracia contra a própria democracia.

No caso brasileiro, o artigo 82 e seguintes da Constituição Federal de 1988 regulam os crimes de responsabilidade do presidente da República. Se observarmos que a CF/88 tipifica e regula o procedimento, então, pode-se concluir que no impeachment de Collor a legalidade não foi aviltada.

Por outro lado, quando se indaga sobre o possível golpe político, não se limita a discussão sobre a questão legal. Para os críticos do processo, longe de defenderem Collor, há que se preservar a integridade institucional e inibir a ação dos grupos políticos insatisfeitos querem o poder a todo custo.

Como esses grupos perdem o processo eleitoral, resta-lhes articular os golpes. Ainda lembram que o “Mensalão” poderia ter decretado o impeachment de Lula. Ou seja, sempre que o grupo de insatisfeitos for maior, politicamente, do que o grupo no poder, abre-se a clareira do impeachment.

É claro que o debate, neste caso, desloca-se do âmbito jurídico para as relações de poder que dominam um determinado cenário político-institucional. O eixo político-jurídico do impeachment revela o ponto mais elevado de toda a conturbada “judicialização da política”, quando o Poder Judiciário interfere e age diretamente nas relações políticas.

Felizmente, não conheço ninguém que não comemorasse o impeachment de Collor. Mas, penso mais firmemente que o Brasil iniciou o que hoje se chama de golpe institucional.

Fonte: Prof. Dr. Vinício Carrilho Martinez
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas

Artigo atualizado às 18:24 do dia 15 de julho.

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 27 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

 Toda tese é uma antítese

Toda tese é uma antítese

A ciência que não muda só se repete, na mesmice, na cópia, no óbvio e no mercadológico – e parece inadequado, por definição, falar-se em ciência nes

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

A Educação Constitucional do Prof. Vinício Carrilho Martinez

Introdução Neste texto é realizada uma leitura do livro “Educação constitucional: educação pela Constituição de 1988” de autoria do Prof. Dr. Viníci

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes são racistas

Todos os golpes no Brasil são racistas.          Sejam grandes ou pequenos, os golpes são racistas.          É a nossa história, da nossa formação

Emancipação e Autonomia

Emancipação e Autonomia

Veremos de modo mais extensivo que entre a emancipação e a autonomia se apresentam realidades e conceitos – igualmente impositivos – que suportam a

Gente de Opinião Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)