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Vinício Carrilho

A bolha - Por Vinício Carrilho Martinez


Hoje o dia começou melhor do que de costume. Nada de extremos ruídos externos. Apenas uma voz, ao longe, de criança na primeira idade. Começava despertar com suavidade, voltando aos poucos para 2018. Meio dormente, sentia um tempo agradável, sem calor forte porque choveu ontem à noite. Aos poucos, acordando, ainda ouvia aquela voz meio distante, meio próxima, de criança que ainda troca as sílabas. Se pensar que moro em larga avenida, com carros e motos frenéticas, ouvir criancinha de manhã é uma benção. Até a nenê, minha gata-filha, dormia ronronando, suave; aliás, é curioso ver como os gatos ronronam e sonham com suas aventuras. Quando de fato levantei, identifiquei a Ana Lívia – filha da Tânia, que nos ajuda em casa.  

O problema veio em seguida. De pé, disposto a encarar as tarefas diárias, logo me lembrei das duas aulas que tenho de montar até domingo. Pensando, vagarosamente, das dezenas de e-mails que, provavelmente, cobrariam respostas rápidas e objetivas, estava feliz porque não vivo em outro ritmo. Já me viciei em ver e ler mensagens no celular, às vezes centenas, ao mesmo tempo em que inicio um texto, uma revisão, um artigo e outros trabalhos. Desde ontem também reabri minha conta no Facebook.

Em seguida, ainda preso nesse sentimento combinado de vários sentidos, senti uma suspensão. É como se estivesse sonhando, ainda que acordado, flutuando com a cabeça vagando, com braços e pernas leves demais. Se eu acreditasse nisso, diria que a gravidade da Terra estava mais leve. O fato é que, ao contrário, a gravidade está muito mais pesada. A gravidade das coisas políticas, do estado de espírito do povo.

Se havia alguma dúvida quanto à gravidade das coisas políticas, ela logo se desfez, tão logo abri a Internet para ler jornais digitais e me deparei com os pacotes estranhos enviados a várias repartições, instituições, estabelecimentos nos EUA. Sem pousar direito, dado que ainda me sinto meio suspenso, lembrei-me de várias outras coisas:    O Brasil está imerso numa bolha fascista. A extrema-direita neonazista se aprofunda no mundo ocidental. Nosso fascista de plantão diz que vai procurar este movimento do Holocausto, para se engajar. Não por acaso os pacotes estranhos foram enviados, nos EUA, para Obama e muitos canais de TV e de imprensa.

Depois do banho, pensando que isto me tiraria a dormência-suspensão da cabeça, comecei a escrever isto aqui. Talvez para compartilhar a confusão que vivemos e como isto pode afetar até pessoas mais lidas e instruídas, por vontade, nas questões da política.

De fato, mesmo agora no final do artigo-crônica, penso/sinto que estamos vivendo numa bolha. Uma bolha assassina, como no filme trash, brega, brega de terror. Uma bolha do Estado de Exceção. Uma bolha em que tudo é estranho, em que você – cada um de nós – é ou se sente estranho. Uma bolha em que os sentidos habituais estão suspensos e em que cada um de nós se sente Estranho – é feito estranho – diante de si e dos outros. Por isso, a suspensão no Estado de Exceção é um efeito estranho. Provoca “estranhamento”.

Mas, o pior é que a bolha só começou, seja qual for o resultado das eleições.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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