Segunda-feira, 30 de julho de 2012 - 17h24
Parece piada que no século XXI ainda tenhamos políticos e eleitores que ora se comportem como bandoleiros, ora ajam como torcedores de futebol. Esta foi a definição dada por morador de cidade do interior nordestino: “aqui as pessoas torcem para os candidatos como se fosse o time do coração”. Por isso, ninguém, especialmente o eleitor, admite estar errado e que o fulano eleito é uma porcaria. Seria o mesmo que trair seu time e admitir a superioridade do arquirrival. Imagine mudar de lado, bem no meio da partida do derby ou clássico.
É muito estranho esse tipo de comportamento. Pode-se dizer pequeno, mas o juízo de valor não ajuda a entender o fenômeno. Alguns diriam que o eleitor age assim porque teria vergonha em ser assemelhado ao pilantra eleito. Se admitisse que o sujeito é safado, seria como admitir que também errou e que acabou escolhendo o pior para se associar politicamente. Ver o voto “perdido”, jogado na lata de lixo da corrupção e incompetência seria como admitir a própria limitação em escolher alguém melhor. Desse modo, como um torcedor que não muda de time, torce para que o infeliz que recebeu seu voto melhore um pouco. Espera que o time saia da zona de rebaixamento, que não sofra derrotas seguidas. Até pode perder, mas não de goleada.
Outra explicação é mais politizada, digamos assim. Seria a aplicação da velha chibata política. Acossados por séculos de coronelismo, um banditismo de elite política apoiado pelo Estado, o eleitor aprendeu a seguir a chibata na hora de votar. Para onde a chibata apontasse, para lá deveria seguir o voto. Em bom juízo, ninguém desafiaria o caminho traçado pelo coronel da política, por medo de morte. De lá para cá mudou a cor da chibata, agora pode estar parecida com uma gravata ilustrada, engomada. Não se obriga mais ao voto, mas compra-se o destino político. O povo sempre foi bom pagador, entregando o produto. Ao contrário da piada, vende e entrega o produto político – seu voto.
O povo pobre, obviamente, não tem força para barganhar suas escolhas. Não tem dinheiro, poder, influência, status, depende unicamente de si mesmo, do nome que carrega, das amizades que mantém. O ditado popular neste caso é sábio: “é melhor amigo na praça, do que dinheiro no bolso”. Isto é dito, certamente, por quem não tinha dinheiro. Ou seja, aquele que vende o voto e entrega, tem medo de votar com a consciência, depois de vender a política, porque ainda suspeita que o comprador pudesse descobrir a traição.
O voto secreto não vale muito, tal qual o voto consciente. Se o eleitor vendeu a consciência, violando a intenção do voto, sabendo-se ter feito algo errado, imagina que o maior fraudador descobrirá seu golpe. É como se um golpista soubesse dos golpes do outro e temesse ser descoberto. É claro que não há inocentes e nem ingênuos nessa história, mas muitos trocam o voto por um saco de cimento. Muitos só viram uma gravata pela TV, mas o subconsciente avisa que a chibata está pronta para estalar.
Neste jogo político de antanho, mas a plenos pulmões no século XXI, apenas o eleitor tem medo de se afogar em falsas promessas.
Vinício Carrilho Martinez - Professor Adjunto II (Dr.)
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Profª. Ms. Fátima Ferreira P. dos Santos
Centro Universitário/UNIVEM/Marilia-SP
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