Sexta-feira, 8 de junho de 2012 - 08h02
O ex-presidente Lula tem declarado que se arrependeu de ter apoiado a CPI do Cachoeira. É possível imaginar algumas razões. Se for feita realmente uma devassa na máfia que relaciona políticos e empresários vai molhar muita gente, em todos os maiores partidos.
Como se sabe, a estrutura montada é digna de um filme no estilo Don Vito Corleone ou da Cosa Nostra. Na verdade, ao longo da história brasileira, em que o Estado se tornou patrimônio de grupos, classes, essa estrutura mafiosa se enraizou em nossa cultura. Os mafiosos costumam a ser perdoados pela lei e pelo cidadão – vide Collor.
Contudo, o que a Copa do Mundo de 2014, aqui no Brasil, tem a ver com a máfia da política brasileira? O leitor conhece bem a relação, mas é melhor explicar.
Tomemos os dados objetivos, concretos, dos recursos públicos investidos e do retorno social alcançado: na famigerada Copa/14 já se gastou quase todo o dinheiro previsto – cerca de 27 bilhões de reais – para construir 5 por cento das obras previstas. 97% desses recursos tem origem pública, ou seja, é nosso dinheiro.
Como explicar que gastamos mais de 90% dos recursos, para dar andamento a apenas 5% do previsto? O que aconteceu com o dinheiro?
Como explicar que órgãos e empresas receberam sua cota, sem sequer ter um projeto aprovado para a obra que deveria ser construída?
Como explicar que todos os órgãos públicos que deveriam controlar os gastos públicos, inibir os desvios, nada ou pouco fizeram sobre o sumiço do dinheiro público da Copa/14?
Permitam aqui fazer duas relações: seria excepcional para a República vermos Lula se arrepender de nos ter trazido essa roubada da Copa/14. É óbvio que há conivência para esconder o rombo nas contas públicas, seja dos que deveriam aplicar adequadamente o dinheiro, seja dos que deveriam fiscalizar.
Se fomos capazes de arrumar 30 bilhões para esse fiasco do futebol mundial, porque não arrumamos os mesmos recursos para a mesma alegada infraestrutura, transportes, aeroportos, sem jogar verba pública em estádios particulares?
Se temos dinheiro para construir estádio para o Corinthians (time de Lula), não é bem lógico que este dinheiro seria melhor empregado na saúde e na educação (inclusive de corinthianos)?
O famoso Itaquerão, dizem, revitalizou a região. Vai ter um shopping e obras de acesso. Em troca, muitas pessoas que lá vivem há décadas serão desalojadas e até o momento sem negociação de desapropriação.
Os mais pobres da região, os favelados ou sobreviventes de comunidades mais precárias não serão beneficiados diretamente. Porque a maioria é de ocupantes ou invasores de regiões anteriormente subutilizadas e estes serão expulsos, com reintegração de posse.
Então, como muitos, cabe perguntar mais uma vez, quem vai ganhar ou já ganhou com esta Copa/14?
É a velha política do pão e circo turbinada pelo marketing e com o olho, exatamente, em 2014 – ano de eleição presidencial.
Quem será candidato à presidência?
Coincidências do futebol?
Quem diz que não se discute política e futebol está perdendo de goleada.
Profª. Ms. Fátima Ferreira P. dos Santos
Centro Universitário-UNIVEM/Marília
Prof. Dr. Vinício Carrilho Martinez
Universidade Federal de Rondônia
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