Terça-feira, 4 de outubro de 2016 - 22h20
Homens brancos com nível superior, além de ricos e famosos, são os vencedores das eleições de 2016. Se, por um lado, o financiamento privado estimulou a corrupção, sua proibição – leia-se caixa 2 – patrocinou uma das eleições mais elitistas, racistas e misóginas da República.
Outro fator importante é a somatória obtida de votos brancos, nulos e abstenções, que teve recordes em várias localidades, a exemplo de São Paulo. Na capital paulista, o candidato vitorioso no primeiro turno teve menos votos do que a votação dos descontentes.
Isso revela uma enorme insatisfação popular com a condução da política – o baixo nível da representação liberal –, potencializado no insulto da coisa pública: corrupção. Porém, não se trata de um mero recado à citada “classe política”.
Por duas razões: primeiro que não existe classe política. Não se fala em classe social a não ser nas situações instituídas da “estratificação social” – classes A, B, C – ou sob a análise da economia política estrutural: proletariado e burguesia, como classes sociais fundamentais do capitalismo.
Segundo: não havendo “classe política” – a não ser que se empregue a expressão sob um notório efeito ideológico, escapista –, não há acerto de contas ou recado político referendado pelo voto às atuais condições sociais e materiais de produção.
Se bem que, neste caso, cabem duas ressalvas: 1. Sob a perspectiva institucional, em que se analise a configuração do Poder Público no país, o patronato não saiu derrotado. Excluindo-se o fato de que o irmão do ex-presidente José Sarney sequer elegeu-se como vereador, o grande sistema de arranjo político perdura há séculos.
2. Com o patronato vitorioso – quando o Estado é forte agente da privatização do próprio Poder Público –, a exemplo de ACM Neto (neto de Antônio Carlos Magalhães) eleito no primeiro turno, a chamada direita saiu amplamente vitoriosa.
Desse modo, não só o patronato se fortaleceu, como também os representantes do ideário mais conservador e vinculado aos interesses do capital – privatização de setores essenciais – avançou em marcha acelerada. Novamente, o prefeito eleito em primeiro turno para a capital de São Paulo é exemplar.
Alie-se a isto a enorme rejeição que as esquerdas enfrentam, como um todo, capitaneada pela derrota agregada de 60% do Partido dos Trabalhadores. A eleição de Bolsonaro filho para vereador no Rio de Janeiro, como o mais votado, é indicativa.
A eleição de Eduardo Suplicy (PT-SP), como o mais bem votado nos últimos 12 anos, para a Câmara Municipal de São Paulo e a eleição em primeiro turno de Teresa Surita (PMDB), para a prefeitura de Boa Vista/RR, só confirmam a regra da concentração do capital e da exclusão das minorias e da diversidade nacional.
A projeção futura dessas forças conservadoras/reacionárias no cenário político, em 2018, indica um maior crescimento do que este já observado. Independente de haver um desgaste “natural” de quem governa, porque não se abastece todas as demandas, a culpa será depositada no governo federal que sofreu impeachment (o PT e a esquerda).
Tanto no Executivo – com crescimento do PSDB/PMDB e dos nanicos que lhes servem de legenda de aluguel – quanto no Legislativo (a se contabilizar o desenvolvimento das famílias Bolsonaros, na bancada BBB), o retrocesso nas políticas públicas alcançará níveis somente vistos no final do século passado.
As esquerdas devem reagir, mas, combalidas, não terão a mesma força para impulsionar os movimentos sociais populares. E é este conjunto que pode ser denominado de cesarismo regressivo, como batizado pelo dirigente do Partido Comunista Antonio Gramsci, na Itália dos anos de 1930. O sinal está verde para o retrocesso societal: protofascismo.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Ajunto IV da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH
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Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de