Sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014 - 06h23
Como é que pode um sujeito que utiliza os documentos do irmão já morto – Título de Eleitor, declaração de imposto de renda, passaporte – ter chegado ao posto de diretor do Banco do Brasil? Isso é crônica policial; não se trata de trailer de filme de assombração.
Como Henrique Pizzolato utilizou os documentos do irmão, votando em seu lugar, Celso Pizzolato é tido como cidadão ativo, vivo e operante pela Justiça Eleitoral e pelo Fisco. O engodo atormenta a família e torna os parentes verdadeiros mortos-vivos. Nunca ouvi falar dessa família até o julgamento do mensalão, não sei das fraquezas do irmão morto, mas duvido que um morto – qualquer que seja – mereça ter sua memória ultrajada desse modo. Um pouco mais e seria vilipêndio de cadáver.
Esta é a melhor demonstração de uma corrupção escatológica, purulenta, nojenta. Esses atos revelam bem a qualidade dos vermes que se apoderaram do Estado brasileiro. Certamente, não se trata de uma situação nova, diria que é secular, de cinco costados, a infâmia de elite que faz a ética, o direito e a política sucumbirem.
Agora, mexer com cadáveres, é a primeira vez que se vê tal coisa na política brasileira; muito morto já votou, nesta terra de analfabrutos, entretanto nenhum chegou à direção do Banco do Brasil. Não sei se é para rir ou chorar, porque me lembrou uma corja de ladrões rezando em agradecimento a Deus, após o butim ter sido lucrativo. As cenas gravadas, coincidentemente, são de Brasília, mas qualquer semelhança é pura ironia do destino.
Se estiver errado me perdoem, porém, nem em meio milênio de política fraudulenta iremos encontrar um irmão que atormenta o outro que já morreu. Para os crédulos, o irmão morto, se estivesse muito descontente, é que iria atormentar o vivo; contudo, na família Pizzolato é o contrário: os vivos massacram os mortos, roubam seus documentos e a pouca moral que os vermes ainda não roeram. Nem mesmo a família Collor, do presidente deposto e do irmão traído e falecido de câncer e de desgosto, chegou perto de tal façanha.
Não será um verme o sujeito que ludibria até mesmo o irmão morto? Sinceramente, amava tanto meu irmão que nem consigo racionalizar um fato tão abjeto como este. Puxei pela memória algum tempo para ver se lembrava algo da literatura que tivesse personagem podre assim. Nem nos piores contos e pesadelos de Kafka encontrei nada parecido (se você tiver na mente algo diferente, por favor, compartilhe).
Daria para escrever uma crônica de horror, uma história de terror e de assombração, em que os vivos – em sessão vodu – atormentam os mortos e, de saco cheio, os mortos recobram a consciência e tem de suportar os corpos já carcomidos pelos vermes noturnos. Este conto, é claro, tinha de se basear na lenda de O Fausto; no entanto, teria de ser a versão contada por Balzac, porque em sua novela um funcionário de banco também assina um contrato de vida e morte com o diabo. Será que Pizzolato assinou um contrato assinado com sangue para tentar se safar do Brasil?
Na novela Melmoth Apaziguado, Balzac ironiza um caixa de banco por sucumbir ao tilintar do vil metal. Não haveria lugar e nem posição mais satisfatória do que esta. É claro que Pizzolato terá direito à ampla defesa, é óbvio que encontrará advogados que o façam com brilhantismo, mas o fato é que – faça o que fizer – seu irmão nunca o perdoará. Duvido que o irmão falecido tenha deixado uma procuração em que autorizava o uso de seus documentos pessoais depois de morto e enterrado, mas, se deixou, a esta hora, estará dando explicações a Mefistófeles. Será possível comprar o voto de um morto? Quanto custa? Qual o crime que se comete?
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ. Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais e Doutor pela Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências e em Direito, é jornalista.
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