Quarta-feira, 15 de agosto de 2018 - 08h48
A política tem, sempre teve e sempre terá cores. Pela única (e, por demais, óbvia) razão de que não há política ‘neutra’, ou seja, descolorida. Todos tomam um lado, um partido, fazem escolhas, inclinam suas esperanças e frustrações neste ou naquele caminho. Até os pais e mães têm filhos ou filhas de preferência.
Ainda que alguém quisesse comparar a política a uma empresa – tipo: Partido S/A –, a obviedade chamaria nossa atenção. As empresas, toda criança sabe, lucram ‘com’ e ‘sobre’ alguém. Por gentileza, digamos que as empresas lucram com a satisfação de seus clientes; no entanto, para fechar a equação, é preciso ter claro que as empresas lucram sobre o trabalho dos outros: chama-se isto de mais-valia ou sobre-lucro – e também tem várias formas.
Agora, some-se ao Partido S/A o fato de que a expressão cliente deriva do latim ´cliens’ – e cliens significa vassalo. E quem são os vassalos da Política S/A? Os consumidores que o marketing nocivo lhes incute o desejo, a compulsão de consumir, ou até mesmo o vício incontestável? Ou são seus empregados, trabalhadores e trabalhadoras que ali permanecem ao custo de sua dignidade?
Pois bem, o partido a ser tomado aqui seria do empregador, do empresário ou, popularmente falando, do patrão. Isto é, onde está a neutralidade desse caminho e dessas escolhas? Por isso é preciso muito cuidado com quem vende a política a preço barato.
Em todo caso, quais são as cores da política nacional em 2018? Há muitos tons e sobretons, mas, encurtando a história, vemos três cores fortes: vermelho, azul e preto. E já nos desculpamos com qualquer nação ou seleção que empunhe essas cores em sua bandeira ou uniforme. Ninguém pode carregar nossa culpa, é passado o tempo de ‘comprar indulgências’.
Enfim, o vermelho simboliza a esquerda: os quilombolas; os trabalhadores que lutam por direitos; a Vereadora Marielle brutalmente assassinada no Rio de Janeiro; os ambientalistas e os defensores dos direitos humanos mortos todos os dias neste país, os socialistas e os comunistas.
Os azuis representam o capital, o mercado, as reformas trabalhista e previdenciária, as privatizações de Correios, universidades federais, Petrobrás, Eletrobrás e outras. Conhecemos um pouco desse espectro contabilizando o número de pedágios nas rodovias do Estado de São Paulo. Aliás, um exemplo claro da Política S/A.
Contudo, ainda há o preto. Na verdade, como ausência de luz e de cor, o preto era tido como habitante das catacumbas da história. Até 2013-16, com o abuso do verde-amarelo e estampa da CBF a honrar o peito gentil. Aí se encheram da cor de breu e, num dia como hoje, frio de expectativa, eis que o cenário ficou bem borrado de preto.
Esses ‘camisas pretas’ defendem, entre outras mil, a liberação de agrotóxicos que sabidamente matam, e de várias formas (loucura, intoxicação irreversível). Também defendem a criminalização dos movimentos sociais, na moeda de troca em que preveem a liberação da venda de armas de fogo. Some-se ainda a este cenário preto, sem luz que nos guie para fora do fundo do poço, inserções como estas: “uso o apartamento funcional (público) para comer gente”; “negros não servem para procriar”; “a indolência vem dos índios”; “a malandragem (corrupção), dos negros”.
Que cor você quer para enfeitar seu presente de Natal? Só não compare a política com religiões ou igrejas, porque na política não há lugar para quem procura a salvação das almas. Não há anjos brancos, a não ser os racistas.
Vinício Carrilho Martinez (Dr.)
Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/DEd
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