Quinta-feira, 16 de agosto de 2012 - 11h30
Vinício Carrilho Martinez - Professor Adjunto II (Dr.)
Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Profª. Ms. Fátima Ferreira P. dos Santos
Centro Universitário/UNIVEM/Marília-SP
Define-se como conteúdo programático a relação de matérias que os professores de determinadas disciplinas devem desenvolver ao longo de um período. Mas, quando os conteúdos seriam rebaixados como problemáticos? Quando analisamos informações, por exemplo, que dão conta de que no Brasil não há racismo ou preconceito social, de que não há crianças fora da escola, de que escrever errado é politicamente correto e tantas mais.
Esse conteúdo, na verdade, é muito mais do que problemático, é equivalente ao cometimento de um grave crime social. Porque a mentira social, seja contada em livros didáticos seja em mensagens oficiais na mídia nacional, tem efeito bombástico, aterrorizador na vida de milhares de pessoas.
Vejamos os casos enunciados: se não há racismo, por que a constituição define-o como crime inafiançável e imprescritível (art. 5º, XLII)? Se a realidade social é positiva, integradora, socialmente progressista, não há porque agregar à prática social um tipo penal com o maior gravame possível. O Brasil tem de acordo com dados oficiais um milhão de crianças, em idade escolar, fora da escola.
Agora, ser estimulado ou reconhecido ao escrever errado é o fim da partida – quer dizer, não se chega a lugar algum. O resultado será a produção de um analfabetismo ainda maior. Quando verificar que não entende nem o resumo da sentença do juiz que lhe negou acesso ao ensino superior, ao recorrer de seus erros no vestibular, aí saberá o que fizeram de sua educação.
Ensinar a escrever errado é tão ou mais grave do que ensinar a ideologia no lugar da ciência. Pode-se ensinar a matemática sem o raciocínio lógico-dedutivo? O médico aprende a anatomia humana estudando a anatomia do macaco? O contrário sim, do homem para o macaco – e como se sabe disso? Sabe-se que a apreensão do conhecimento só é possível quando se caminha do complexo ao particular, ou seja, graças ao pensamento científico, recusando-se a ideologia como uma grande certeza construída por pequenas mentiras.
Quando o analfabeto funcional fizer uma entrevista de emprego e for reprovado em sua capacidade de comunicação ou não conseguir ler e entender adequadamente uma bula de remédio, infelizmente, não saberá diagnosticar que isto ocorreu a ele devido à ideologia mascarada de inteligência.
O estudante estimulado a escrever (pensar) errado não saberá que o analfabetismo funcional decorre de um analfabetismo institucional. Esta falsa capacidade do sistema político-institucional, vale dizer tecno-burocrata, de visualizar os reais problemas sociais. Na verdade, sem o fundo ideológico, esses técnicos do pensamento – muitas vezes disfarçados de educadores – ignoram a raiz, a natureza e a profundidade dos problemas sociais. O que fazem é repetir lições escolares amarelecidas, hoje um faz de conta que esconde outra das boas intenções infernais.
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