Sábado, 8 de setembro de 2012 - 10h03
Fui cobrado por minha esposa porque insisti na crítica a um partido. Nessas horas é melhor prestar atenção, crítica de mulher tem peso dobrado, normalmente acertam, porque as mulheres são realistas e muito mais honestas no que fazem.
Hoje quero fazer essa revisão, não é uma autocrítica – tão em modo entre alguns políticos desse mesmo partido –, uma vez que errei ao pegar no pé de um só. Afinal, a corrupção, os desmandos, a truculência não são invenções ou privilégio desse partido.
Basta rever a história política para saber que a República, do 15 de novembro, foi uma farsa desde o início. Os desfiles na República Velha eram ridicularizados pelo povo, simplesmente porque o povo não participara da instalação da “nova política”.
A chamada Revolução de 1930, decantada como outra fase de “nova política”, foi um acerto com as forças mais conservadoras – bom, nada que nasce de um Golpe de Estado pode ser decente. Getúlio Vargas foi o pai dos pobres e a mãe dos ricos.
Depois, com Juscelino e o famoso Plano de Metas tivemos o auge do endividamento do país. Por quê? Em parte para custear os sonhos megalomaníacos, em parte para locupletar as elites corruptas. Nessa época também criamos uma arquitetura disfuncional, cara, espaçosa.
Em 1964, outro Golpe de Estado e mais corrupção – lembro-me do cinto apertado e do bolo que deve estar crescendo até agora, ou que foi repartido apenas com os cinco estrelas. O triste episódio se arrumou com o Colégio Eleitoral – uma eleição de mentira – e ainda revelou Collor: caçado por impeachment, mas absolvido pelo Judiciário. Que coisa, o mesmo que agora julga o Mensalão e que terá outros mensalinhos pela frente.
Em todo caso, neste ínterim foi dada como certa a Nova República, em outro grandiloquente desfile de beldades políticas; temos, enfim, uma República, como coisa do povo, repleta de exemplos republicanos, democráticos, populares, honestos? Em 2012, quem não fala da Ficha Limpa, do Mensalão, do Cachoeira, etc. etc??
Com este palmo da história na cabeça, revi a intensidade da minha chatice persecutória ao partido. Realmente, a onda é mais alta e o buraco mais embaixo. O que mais me desanima não é nem tanto o que fazem as elites políticas, os grandes lobos. Fico cada vez mais perplexo com os pequenos lobos ou, como se diz no popular, os “porcos magros”: aqueles que chegaram agora no poder e sentem que precisam engordar rapidamente.
Em parte, em boa parte, os porcos magros também estão entre os eleitores, nos que vendem seus votos e a consciência e, sobretudo, naqueles que saúdam os que “roubam, mas fazem”. O bordão foi criado em São Paulo, por Paulo Maluf, o mesmo que é procurado pela Interpol. Mas ocorre que esse eleitor é o mais desavisado, o mais problemático, porque não vê outra forma de se fazer política e, especialmente, porque aceita, justifica e põe em prática as “pequenas corrupções” no dia a dia. Isto é o que tem me chateado mais.
Poderia ser diferente. Talvez nem precisássemos de muita coisa. Dizem os grandes especialistas que, com dez anos de boa escola, as coisas mudariam muito. Mas aí começa o gargalo outra vez, pois se a educação liberta, a assistência social escraviza. A educação pública de qualidade, realmente de qualidade, com estrutura e profissionais capacitados, acabaria com os “velhos” tipos de dominação. E isso interessa a quem? Talvez interessasse aos que deveriam ser libertos do jugo, da cangalha, mas esses nem sabem, nem pensam abstratamente sobre a política.
Enfim, voltamos ao começo do artigo?
Sinto pela ironia, mas é melhor do que o cinismo que tem sido reservado ao povo. Amo minha esposa por sua honestidade, porque é uma sobrevivente. Ela, você e eu, assim como a imensa maioria do povo, não merecemos os porcos magros da política nacional.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto II da Universidade Federal de Rondônia
Departamento de Ciências Jurídicas
Doutor pela Universidade de São Paulo
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